No tempo dos três

Numa época não muito distante, há uns quinze anos, Pax, Éden e Apolo significavam boas opções de divertimento à comunidade jovem. Estes nomes vultuosos, que lembram mais elementos mitológicos são, na verdade as almas-penadas que vagam pela cidade, pedindo memória. Não é difícil recordar a era-de-ouro dos cinemas cajazeirenses. Os empresários pareciam não ter medo de investir na sétima-arte, que se sobressaía vigorosa, sobretudo, no período noturno.

O Cine Pax, no térreo do “Prédio do Bispo” era um tanto menosprezado. Ao aspecto sinistro do cine juntava-se a programação menos atraente dos filmes em cartaz. Menina-de-família não freqüentava.

O Apolo Onze, pertencendo à Igreja, exibia documentários e curtas-metragens de cunho pedagógico e/ou religioso. Os de longa duração eram infantis, de ação (mas sem muita violência), de romance água-com-açúcar e de aventura. Na Catedral, após as lições de catecismo, nos Domingos matinais, a criançada recebia logo o ingresso para um filme – que pregasse, claro, as leis da obediência.

A maior parte do bolo, no entanto, era reservada ao Éden, talvez pelo investimento em publicidade. Carros de som, sorteios de entradas e comerciais de rádio despertavam o interesse do público; além disso, a localização, na Avenida Presidente João Pessoa era perfeita (O eterno point dos fins-de-semana). “A Hora da Estrela”, em cujo elenco estava a filha-da-terra Marcélia Cartaxo, foi exibido durante três semanas. Houve também a febre do filme “Ritmo Quente”, uma espécie de musical romanceado que agradava a meninos e meninas. A exibição durou duas semanas, mas aconteceu mais de três vezes. Na entrada do Éden ficava uma espécie de galeria, expondo os cartazes e as fotos dos próximos filmes, os quais nem sempre eram exibidos. Nos últimos anos de funcionamento, filmes ultra-eróticos e de artes-marciais povoaram a programação que, exausta, serviu para eliminar a credibilidade que o consumidor ainda depositava.

A culpa pelo fim dos cinemas locais não se sabe onde está. A chegada do videocassete, de certo, representou uma pequena queda no gosto pelo cinema e, de certa forma, foi mal interpretada, pois o filme quando locado reforça a possibilidade de ser assistido em casa, confortavelmente, no horário desejado e repetidas vezes, mas, por outro lado, o cinéfilo exige algo mais que uma simples TV. O cinema, fruto da moderna concepção de diversão, requer um lugar grande cujo público de, no mínimo, cento e cinqüenta pessoas, compartilha emoções semelhantes, conhece pessoas, espera ansiosamente pelo filme A, B ou C e, mais do que comer pipoca, quer conhecer e reencontrar pessoas e, enfim, poder contar com mais uma alternativa de entretenimento.

Nossa produção cultural se diz famosa, porém, devemos reconhecer que caiu qualitativamente. Seria gratificante se, neste mesmo setor, pudéssemos contar com incentivos da natureza, por exemplo, do cinema. Pelo menos a história serve para provar a época em que tínhamos três de uma só vez.

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