Paçoca de pilão*

Voltei ao Piauí com minha esposa Antonieta e com a prazerosa companhia de José Cavalcanti, Dona Ildinete e Zélia Ribeiro, convidados que fomos do empresário João Claudino Fernandes para a festa de confraternização que realiza anualmente, no inicio de janeiro, para seus funcionários e convidados especiais.

Fomos recebidos ao som do zabumba, da sanfona, do triângulo e de um repentista que declamava versos em abundância, rimando nossos nomes com saudações de boas vindas, além do abraço fraterno e acolhedor de Seu João.

No solo piauiense, por onde andamos e passamos existia sempre uma estrada atapetada de carinho e simpatia, ora guiado por Seu João ou por seus zelosos e gentis funcionários.

A companhia de Seu João ao nosso “grupo” foi de uma assistência permanente e constante. Muita alegria e gostosas gargalhadas interrompiam sempre as conversas que volta e meia giravam  em torno do tempo em que Seu João passou em Cajazeiras. 

Comprovei mais uma vez o bem imensurável que Seu João tem por Cajazeiras, quando rasga o livro da memória e vai folheando página por página e como um poeta apaixonado, vai contando fatos, narrando causos e vai buscando as imagens guardadas e debulha-as bem vivas em suas lembranças, como se as estivesse vivendo o presente.

Falar sobre suas caminhadas, viagens e aventuras pelo sertão da Paraíba, do Ceará e do Rio Grande do Norte é como se estivesse cantando melodias de um tempo que não morre ou como se cancelas abrissem devagarzinho para permitir entrar nos labirintos da memória e poder resgatar cada palavra, cada imagem vivida com tanta intensidade, no passado de sua vida.

Comprovei também o censo de justiça de seu João, quando o ouvi indagando ao vaqueiro de sua fazenda se a sua filha havia gostado da festa de debutante, quadro realizado dentro da festa de confraternização, exclusiva para as filhas dos funcionários de suas empresas. Era a filha do vaqueiro no mesmo palco com a filha do funcionário mais graduado.

Vi Seu João atirando de baladeira, espantando urubus que rondavam a sua criação de porcos ou de pedaço de pau na mão entrar nos currais de gado, meter as mãos na ração dos cochos e sentir o cheiro gostoso do capim triturado na forrageira. Cada instante daquele talvez seja a repetição dos mesmos atos e gestos que fazia no Alto do Belo Horizonte, em Cajazeiras, onde seu pai tinha uma vacaria onde produzia leite que era vendido por ele no lombo do carneiro Jasmim.

Vi Seu João com uma mão de pilão nas mãos pilando carne de sol assada, com farinha e cebola para fazer uma deliciosa paçoca, onde eu e o companheiro José Cavalcanti, em toda nossa vida, nunca comemos tanta paçoca. Não podia ser diferente: qual o sertanejo que não se refestela com paçoca?

Vi Seu João com uma manga cuité nas mãos pesando mais de um quilo, exibia com orgulho o fruto colhido dos mangueirais plantado em sua fazenda.

Quem se vê Seu João com os olhos marejados de lágrimas quando se recorda de Cajazeiras, quando se vê Seu João conversando com seu vaqueiro alegremente, quando se vê Seu João atirando de baladeira, quando se vê Seu João mostrando uma manga cuité, quando se vê Seu João fazendo paçoca num pilão, não imagina que este homem comanda um batalhão de 14 mil funcionários de um grupo de empresas que gera empregos e desenvolvimento: são mais de 200 lojas do Paraíba, indústrias de roupas, de colchões, móveis, bicicletas, construção civil, gráfica, frigorífico, shopping center, sem esquecermos a sua contribuição às artes, à cultura, ao esporte e à comunidade.

Sim, de saldo, ainda tem um filho eleito senador, que nasceu em Cajazeiras e se tornou o primeiro empresário, eleito senador pelo Piauí, apenas com 44 anos de idade. 

Assim é Seu João, simples humilde que recebeu a mim, Antonieta, José Cavalcanti, Dona Ildinete e Zélia Ribeiro para uma sua festa de confraternização, de braços e coração aberto. De volta todos ficamos com derrames de saudades, mas com sentido de agradecimento e gratidão.

Viva o Piauí, terra querida!

*Em memória de João Claudino, que sempre esteve presente nas celebrações do “Dia da Cidade de Cajazeiras”, publicada no dia 11 de janeiro de 2007. 

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