O crescimento da cidade e a mobilidade urbana

Quando de minha juventude, e mesmo antes, quando a gente estava cursando o Ginásio (hoje o Segundo grau) já começava a escolher para onde iria emigrar, primeiro para os estudos e quase sempre para toda a vida. Apenas os que não tinham condições quase nenhuma, ficavam, pois a cidade (a região do Sertão do Nordeste) não oferecia condições de trabalho, emprego, etc. a não ser que fosse um emprego mal remunerado ou o caso de se substituir alguém que emigrou ou faleceu.

Geralmente os destinos eram João Pessoa, Recife (meu caso), Campina Grande e os muito ricos o Rio de Janeiro. Para São Paulo iam os riquíssimos e os retirantes. Depois o destino acabava por encaminhar os jovens de nossa geração.

Para que eu voltasse para Cajazeiras, foi necessário que um primo que trabalhava aqui fosse “promovido” para prestar serviços para uma construtora pernambucana, então abriu a vaga na nossa empresa familiar para que eu voltasse. Mas era uma exceção rara mesmo nos tempos do milagre econômico.

Como resultado, desde a década de 70, nossa cidade, e de resto todas dessa região, apresentava crescimento vegetativo em torno de zero, desde que eu cheguei aqui em 1981, nossa população estava em torno de 45.000 almas. 1990, o mesmo; 2.000 também. Hoje eu posso começar a ter a noção de que os governos de então somente queriam que nós nordestinos ficássemos a competir com o Sul- Maravilha com instrumentos agrícolas medievais (enxada, cultivadores, etc.) enquanto eles experimentavam o agribusiness do terceiro milênio e a gente vendendo algodão milho, feijão, carne, no mesmo mercado. Ora, no meu entender era uma batalha desigual, e a gente nunca poderia vencer, aí eles ficavam com aquela estória de que a gente era preguiçoso, vagabundo, e ouros apelidos vexatórios.

Depois da virada do milênio, e as políticas de distribuição de renda, que apenas retirava uma pequena fração da arrecadação e entregava aos menos favorecidos, a coisa começou a virar, e a região pode encontrar outras vocações, como a área de serviços e em pouco mais de uma década, nossa cidade (e a região circunvizinha) experimentou um crescimento verdadeiramente extraordinário já rumamos para aos setenta mil habitantes.

Mas apesar de se conseguir sair de uma situação que apontava para uma pobreza estimulada por políticas equivocadas, que por acaso coincidiu com os sucessivos governos do PT, hoje temos edifícios de mais de dez andares, o que surpreende alguém que passou as últimas décadas fora, quando o Edifício Antônio Ferreira (a antiga Rodoviária), imperou como o mais alto por meio século.

Mas aparecem outros problemas que devem ser solucionados. Há um ano apareceu uma nossa conterrânea que morava nos Estados Unidos e disse: “Cajazeiras com sinais, engarrafamentos e sem vagas no centro é tão estranha…”. Agora temos que pagar o preço do progresso. Isso quando a última obra que atendeu a mobilidade urbana foi feita na administração Antônio Quirino, no começo da década de 70, quando foi aberta a Rua Padre José Tomaz.

Então, voltando ao tempo que cheguei aqui, recém casado, uma das primeiras visitas que recebi foi do empresário Zé Cavalcanti, que levou a grande novidade de 1981, a chegada da concessionária Honda. De lá para cá. Milhares de motos e carros vieram para nossa cidade projetada (???) no século XIX, recebendo essas, os Fiat,Volkswagen etc. e tem-se a presente situação que poderíamos chamar de “coisa de cidade grande”, os engarrafamentos, quebra-molas e tudo o mais.

O nosso Secretário da SCTRANS, Eudomar, nem que trabalhasse 48 horas por dia, poderia solucionar o problema e como continua a se vender carros para usar este mesmo sistema de mobilidade urbana que há muito está superado, pode apresentar soluções para algo que está fora de seu alcance. Uma coisa boa que surgiu foram os mototaxis, meio de transporte perfeito para uma cidade do porte da nossa, nem tão pequena, nem tão grande. A exceção que confirma a regra.

Uma possível saída seria o caso de se chamar profissionais realmente qualificados, que projetassem vias alternativas e abertura de ruas, mas tudo isso tem um preço e neste caso pode ser muito caro, certamente dependendo de verbas de fora.

Senão vai continuar a briga em que todo mundo tem razão, e os problemas a se agravar. Eu por exemplo, não tenho nenhuma solução mágica para isso, nem sei quem tem.

São os problemas do crescimento, se a gente pudesse mandar um monte de gente prá fora (podíamos escolher os mais ruins, mas posso estar na lista), o caso é que temos que conviver com esta problema, se juntar e procurar conjuntamente uma solução…

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