O povo wiaóke

Naquela tribo, tudo reluz, tudo é ouro. Os wiaókes dançam a vida e a morte. Como se o mundo estivesse começando a cada instante. As moças, sempre grávidas. Esboçam um sorriso farto, entreolham-se, tontas da claridade do dia. Há tanto tambor, há tanta guerra, mas o sono chega rápido, como um cometa nos céus das bocas. O galo canta quando há tormenta, tempestade que se avizinha, tufão que vem rompendo os elásticos das árvores. O vento é sempre pegajoso. As crianças aprendem a matar vaga-lumes azuis, tartarugas doentes, gafanhotos-do-tamanho-de-nada, e destroem, com todo o orgulho, ninho de pombos e botões-de-rosa. É lá que tudo é festa e perigo; dor e contentamento; oração e vingança.

Todas as noites, os homens saem em busca do sonho de alguém. Qualquer estória é invadida, qualquer inconsciência reinventada… Não se sabe onde vivem, são eternamente nômades. Os seus dentes são de ouro e solidão: riem ao contrário, pelos olhos. As casas são subaquáticas, num rio caudaloso, que corre em todas as direções, principalmente na direção das despedidas. Não se anda em paz, corre-se sempre, numa pressa inquestionável.

Wiaókes quer dizer “tribo que dorme”, pois só aparece em sonho. O conselho para o sonhante é único: não se pode jogar no bicho; não existe palpite ou alegria. Passa-se um mês inteiro de sono.

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