Uma disputa política acirrada

O grande debate que sucedeu ao anúncio de Burity como futuro governador da Paraíba, foi a decisão de Antônio Mariz em ir à disputa na convenção da ARENA, contrariando o que havia determinado o presidente Geisel. A questão era avaliada como arriscada, mas ele e seus apoiadores acreditavam nas chances de vitória.

Em 1973, portanto, a Paraíba viveu dias de grande efervescência política. As disputas eram entre Burity e Mariz para Governador, Clóvis Bezerra e Valdir dos Santos Lima para vice, Milton Cabral e Ernani Sátiro para Senador biônico. Uma das vagas para o senado seria preenchida por eleição direta que tinha Ivan Bichara como candidato da ARENA. Cada grupo em busca da conquista de votos dos convencionais. Os dois lados contabilizavam números que animavam as perspectivas de vitória. A população acompanhava essa movimentação assumindo suas preferências.

No dia 4 de junho, desde as 7:00 h, a Praça João Pessoa começava a receber um grande público. Os partidários de Mariz eram visivelmente em maior quantidade e bem mais barulhentos. Antes de iniciados os discursos no plenário da Assembléia Legislativa, onde se realizaria a Convenção, vários oradores ocuparam o parlatório que fica na frente do prédio e ali improvisaram um comício. Parlamentares e lideranças municipais se revezavam nos pronunciamentos em defesa da chapa de contestação liderada por Mariz. Até o popular Mocidade fez uso da palavra, assim se expressando: “Mais uma vez assaltam a soberania da Paraíba. Esta praça é do povo, e eu estou acostumado a falar na praça do guardião da democracia que foi o presidente João Pessoa e o faço agora em defesa do nome de Mariz”.

Por volta das 10:00 h, encerradas as manifestações na tribuna da praça, o público ocupou as galerias para ouvir os oradores daquela festa cívica. Em sendo maioria, os marizistas vaiavam os adversários e aplaudiam os correligionários. O único orador dentre os governistas ouvido em silêncio foi Tarcisio Burity, em razão do apelo feito por João Agripino no sentido de que o escutassem com respeito.

Sendo o primeiro a discursar, João Agripino iniciou dizendo: “Eu não ensinei a Paraíba a ser rebelde. Porque esse comportamento, eu proclamo, foi João Pessoa quem ministrou. Compreendo as reações. Apenas eu lhes peço para provarmos que somos um povo bravo, mas educado politicamente. Somos da ARENA e queremos Mariz candidato a governador por nosso partido. Contamos com vocês”.

Os dois candidatos ao governo assim se dirigiram aos convencionais. Tarcisio Burity: “Vou colocar os interesses do povo acima dos pessoais. Sigam-me, portanto, todos aqueles que desejam a paz, a união, a tranquilidade, o trabalho e o progresso em benefício da Paraíba e do Brasil”. Antônio Mariz: “A Paraiba não admite medo. E o povo é senhor de sua história. Quando o povo grita que eu sou o “governador do povo”, está afirmando uma verdade. Os convencionais da ARENA são uma expressão do povo. Eles trazem para aqui a voz de todos os municípios paraibanos e aqui reunidos farão a vontade desse povo e por isso nos darão a vitória”.

Exatamente às 14 h começou o processo de votação, que durou até as 17 h, quando então as duas urnas coletoras de votos foram lacradas e entregues à Comissão Apuradora para contagem das cédulas ali depositadas e consequente conhecimento do resultado da histórica convenção.

Ao ser encerrada a votação, João Agripino sugeriu ao presidente dos trabalhos que promovesse a evacuação das galerias, permitindo a presença apenas dos convencionais durante o processo de apuração, no que foi atendido. O público ficou ansiosamente esperando o resultado na Praça João Pessoa.

Predominava o nervosismo natural em qualquer momento que antecede a contagem de votos de uma eleição. Mas os partidários das duas chapas faziam contas que prenunciavam a vitória dos seus respectivos candidatos, embora na certeza de que o vencedor obteria uma pequena vantagem de votos sobre o adversário.

A Comissão Apuradora, composta por Teotônio Neto, Álvaro Gaudêncio e Américo Maia, presidida pelo primeiro, iniciou a abertura das cédulas exatamente às 17:30 h, sob os olhares atentos dos que participavam da convenção.

Quarenta e cinco minutos depois foi proclamado o resultado, apontando a vitória dos governistas. Para governador e vice, Burity e Clóvis Bezerra tiveram 152 votos, enquanto Mariz e Valdir dos Santos Lima contaram com 124 sufrágios. Confirmou-se então a expectativa de que seria apertada a disputa. Para o Senado, Milton Cabral obteve 162 votos, contra 111 dados a Ernani Sátiro. Tarcisio Burity tornava-se oficialmente o candidato da ARENA ao governo do estado a ser eleito numa votação indireta.

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