Mundos opostos e iguais

De repente, sem nenhuma pretensão de uma busca frenética e desesperada por um bom texto, uma boa surpresa de leitura nos contamina os olhos. O título, bastante sugestivo, ‘Deus, dinheiro e consciência’, nos conduz às tramas de uma intrigante, mas deliciosa amizade entre um monge e um executivo de um grande conglomerado econômico. Dois mundos e uma reflexão bastante pertinente sobre quem somos e para onde iremos enquanto espécie e enquanto planeta.

Ao longo de toda obra, o executivo alemão Jochen Zeitz e o monge Anselm Grün elaboram uma série de reflexões sobre aspectos da nossa contemporaneidade. Reflexões construídas de maneira inteligente, sagaz, sem o ranço da presunção intelectual, mas somente buscando atingir e, sobretudo, sensibilizar nossas inteligências modernas e de como nossos gestos cotidianos estão, irremediavelmente, nos conduzindo para a destruição. Como, embora inteligentes, somos irracionais enquanto produtores de toda uma parafernália de inventos e atitudes que destroem nosso planeta, contamina nossa possibilidade de futuro e inviabiliza a continuidade da vida.

Não podemos permanecer imunes a essa leitura quando os autores, ao refletir sobre a educação, nos presenteiam com a seguinte elaboração: “a educação começa pelas imagens que carregamos conosco e em nós”. Acrescentando: “educação significa naturalmente também aperfeiçoar continuamente as pessoas, transmitir-lhe de fato novo conhecimento durante toda a sua vida. Nesse caso, não se trata de acumular conhecimento, para, desse modo, se colocar acima dos outros, porque se sabe melhor das coisas. Além disso, não basta conhecer os meros fatos, mas é preciso ter um saber a respeito dos nexos do nosso mundo. Educação significa também a disposição de se informar a respeito daquilo que cunha nossa vida e de que ela depende. Porém, apesar de todo o conhecimento exterior, na educação se trata, no final das contas, sempre da formação do ser humano de acordo com sua verdadeira imagem”.

A leitura desta obra deve tornar-se obrigatória em todas as reuniões das grandes corporações financeiras, nas salas de aulas de escolas e universidades de todo o planeta, em reuniões de associações, sindicatos, partidos políticos, agremiações e conglomerados econômicos. Talvez, construindo sensibilidades e produzindo novas configurações e elaborações conceituais e práticas acerca da vivência e convivência entre os seres humanos e, entre nós, as demais espécies e todo o próprio universo, possamos prolongar a extinção do planeta azul. Gestos simples como articular a água que bebemos com a garrafa plástica que arremessamos no córrego, entre a árvore que derrubamos e o papel que desperdiçamos, entre a pressa do cotidiano e o ser humano negligenciado ao nosso lado. Lições que um monge e um executivo estão nos ensinando. Basta ter a sensibilidade para aprender.

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