O atentado do Rio Centro

Em 30 de abril de 1981, quando se iniciava a programação comemorativa do dia dos trabalhadores, no Rio Centro, bairro de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, militares que integravam a ditadura organizaram um atentado a bomba, com o objetivo de fazer parecer que se tratava de um ato terrorista da oposição ao governo. Entretanto, a intenção resultou num retumbante fracasso, se constituindo, inclusive, em um grande escândalo que causou muito desgaste ao governo Figueiredo, culminando com a queda do general Golbery do Couto e Silva do cargo de Ministro da Casa Civil.

O plano envolvia quinze militares, distribuídos em seis carros. A primeira equipe foi justamente a que falhou e deveria instalar três bombas no pavilhão. A segunda equipe também falhou, pois a bomba que deveria explodir a estação de eletricidade errou o alvo. As outras equipes se posicionaram fora do pavilhão, com a responsabilidade de forjarem evidências de que esquerdistas teriam sido os provocadores das explosões. O policiamento que cuidaria do trânsito e da segurança no entorno do Rio Centro foi suspenso, por ordem do coronel Nilton de Albuquerque Cerqueira, que comandava a operação. Uma das bombas explodiu antes da hora marcada, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o capitão Wilson Dias Machado.

Soube-se, depois das investigações, que o planejamento teria sido articulado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) e pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), com o propósito de alarmar a população, interrompendo o processo de abertura política, justificando, assim, uma ofensiva contra a esquerda que classificavam de comunista. O Presidente da República apoiou essa versão oficial e decidiu arquivar o inquérito sem que ninguém fosse incriminado. Só em 1999 o caso foi reaberto pela procuradora da República Gilda Berer, responsabilizando pelo crime o sargento Guilherme Pereira do Rosário, o capitão Wilson Dias Machado, o ex-chefe da Agência Central do SNI, general Newton Cruz, e o ex-chefe da agência do SNI no Rio, coronel Freddie Perdigão. Todavia, o Superior Tribunal Militar decidiu, novamente, pelo seu arquivamento, alegando que os acusados estariam beneficiados pela Lei da Anistia. Como consequência, os envolvidos não receberam nenhuma punição.

O então chefe do SNI, Otávio Medeiros, oito anos depois, admitiu que tanto o presidente, quanto o chefe do Gabinete Militar, Danilo Venturini, foram avisados do plano, um mês antes, pelo General Newton Cruz, e nada fizeram para impedi-lo. Em 2015 o Centro de Relações Institucionais da Fundação Getúlio Vargas, deu a conhecimento público, um documento em que ficava provada a participação da CIA no planejamento do atentado. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pelo episódio.

O evento contava com a participação de artistas como Gonzaguinha, Chico Buarque, Alceu Valença, Gal Costa, que se destacavam como opositores ao regime militar, alguns deles tendo retornado ao país após a Lei da Anistia de 1979. O público presente estava estimado em vinte mil pessoas. Gonzaguinha, na oportunidade em que fazia sua apresentação, denunciou: “pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar”. O atentado ao Riocentro poderia ter sido o maior ato terrorista urbano da história do Brasil com consequências inimagináveis.

É preciso relembrar fatos como esse, para que os inimigos da democracia não consigam fazer com que a população dê apoio aos seus discursos golpistas. DITADURA NUNCA MAIS.

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