Diálogos do submundo político

Cada nova conversa divulgada de políticos carcomidos é um susto. Um susto e uma exoneração. Políticos, autoridades, ministros do governo interino de Michel Temer desnudam-se nos diálogos do submundo. Exibem o medo de serem investigados, conscientes de suas traquinagens criminosas. Por isso, querem o desmanche da Lava Jato, o problema número um. Número um deles. Não da sociedade. Incrível, alguns daquelas figuras permanecem em seus cargos! Falta vergonha na política brasileira. Sobra safadeza. O jovem advogado Fabiano Silveira fez-se involuntário conselheiro informal de Renan Calheiros e apadrinhados. Para quê? Para ensinar-lhes como fugir dos laços do Ministério Público. Professor de contorcionismo que, no áudio gravado por Sérgio Machado, deu dicas a recebedores de propina para escapar das garras firmes da equipe de Rodrigo Janot. Três meses depois, vira ministro-demitido!

Ministro de quê?

Da Transparência, amiga leitora. Um ministério recém-criado no lugar da CGU – Controladoria Geral da República que, no passado, teve o incorruptível Waldir Pires como chefe. Quando tinha no comando Jorge Hage, a CGU conduziu investigações que permitiram a abertura de centenas de processos contra a ladroagem patrocinada por prefeitos e prefeitas corruptos. A Operação Andaime nasceu na CGU, lembra? Ministério da Transparência, ocupada por um opaco! Nada mais simbólico da mudança do interino Temer.

Foi para isso que o povo ocupou as ruas?

Por essas e por outras, não se surpreenda, leitor, com gritos de volta Dilma! Menos pelo seu preparo para o cargo e mais pela sacanagem do governo interino. Pelo engodo. Tirar Dilma para acabar com a sangria da Lava Jato, quando o nome de Moro desfilava no asfalto! Foi para isso que a população se vestiu de verde amarelo, empunhou cartazes de fora Dilma, fora PT e ganhou as praças de centenas de cidades?

Por isso, lembro, mais uma vez, a Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013. Nela existe a secção Da colaboração premiada, que conceitua e disciplina o uso seguro desse meio de obtenção de prova. Essa lei teve a participação do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Sem delação premiada, talvez não estariam hoje no cárcere centenas ladrões de gravata – empresários, políticos, doleiros, executivos de grandes empresas, servidores públicos corruptos. Presos após se submeterem a processo formal, garantido amplo direito de defesa, julgamento legal e punição em primeira instância. Tudo em sintonia com as liberdades individuais asseguradas pela Constituição, graças em boa dosagem à colaboração premiada, que a malta corrupta, articuladora do impeachment de Dilma, deseja acabar!

E o Partido dos Trabalhadores?

Comprometido com a corrupção, transformou Sérgio Moro em inimigo, adotando a estratégia primária de desqualificá-lo, acusando-o de seletividade, de querer prender Lula, de ter ligações partidárias etc. etc. Pior ainda, o PT fechou os olhos aos fatos. Exemplo: das decisões do juiz Sérgio Moro, apenas uma ou outra deixou de ser confirmada pelo Supremo Tribunal Federal! Prova insofismável da correção de seu trabalho.

O combate à corrupção não é o problema fundamental do Brasil, eu sei. Mas a seriedade da força-tarefa de Curitiba, as revelações expostas nos diálogos do submundo nos levam a defender todo o apoio à Lava Jato. 

P S – Não esqueça: dia 11, 10 horas, na Livraria do Luiz, João Pessoa, lançamento do livro Guerra ao fanatismo: a diocese de cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

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