De música e de saudade

Recentemente, trabalhei na edição de um belo livro de memórias cujo título – SAUDADE, um Lugar dentro de mim – certamente cativa os leitores desde as primeiras páginas. Por uma feliz coincidência, a autora é minha esposa, “cajazeirada” por adoção.

Mas, não vou falar da construção de um livro de memória, mas dos fatos e fatores que conduzem as pessoas a deixarem-se dominar por um sentimento de recordação, que nós, algumas vezes, traduzimos como saudade.

Dentre esses elementos que nos remetem a lembranças do passado, creio que a música é a mais simbólica e a que mais nos sensibiliza em momentos especiais. Explico-me melhor: a música tem o poder de nos transportar no tempo, trazendo-nos lembranças de alguém, de algum fato ou de alguma coisa que procuramos buscar no passado.

Sempre fui um aficionado por música, desde a mais tenra idade: em criança, minhas noites eram cativantes, quando eu ia ouvir, nas calçadas do Grupo Escolar Mons. Milanez, o serviço de alto-falante da Difusora, embrião, nos anos 40/50, da futura DRC – Difusora Rádio Cajazeiras; posteriormente, já no início dos anos 60, me engajei na incipiente rádio homônima, onde dei expansão aos meus gostos musicais procurando adequá-los aos meus ouvintes da época, sobretudo à juventude, apresentando o programa “Os brotos comandam”, nos tempos de Renato & seus Blue Caps, The Beatles, etc… , sem esquecer a programação noturna, com o “Enquanto a cidade dorme”, um misto de músicas da chamada velha-guarda e o recital de poesias românticas e saudosistas.

Mas o que me traz recordações de lembranças de alguém, de algum fato ou de alguma coisa, são as letras e melodias do que se “tocava” nos alto-falantes, numa época em que “música estrangeira” não chegava ao Brasil. Então, o “consumo” do nosso cancioneiro – leia-se Música Popular Brasileira – era exorbitante e composto de “pérolas musicais” em que pontificavam música e letras. Obviamente, não era essa baboseira que hoje se toca por aí, quando os pseudoartistas e DJs nos impingem o baixo calão de suas “criações”. Ó tempos! Ó costumes!

Ainda hoje, já decorridas tantas décadas, ainda trago na memória letras e melodias que me conduzem a reviver um passado que vai ficando cada vez mais distante. A título de provocação, mas também de evocação, sugiro aos meus contemporâneos rememorar alguns títulos que estão, vez por outra, me lembrando de quando se fazia música boa e de “quanto éramos felizes e não sabíamos”:  Salão Grenat (Carlos Galhardo), Sertaneja (Orlando Silva), Ontem ao Luar (Vicente Celestino), Fascinação (novamente, Carlos Galhardo), Jardineira (novamente, Orlando Silva), Dez Anos (Emilinha Borba), Rosa (ainda Orlado Silva), Senhor da Floresta (Augusto Calheiros) e inúmeras outras cujas letras e melodias vivem a provocar as minhas recordações.

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