Avia!

Nesta semana, fiquei muito feliz ao saber que o vereador Rivelino Martins propôs uma sessão especial para discutir um assunto polêmico: intolerância religiosa. Pois é. Não deveria ser polêmico. Numa instância legislativa, chamar o povo para esse tipo de debate é sempre proveitoso. Convida o público a ser tolerante. Peneira as vaidades. Resolve conflitos.

Soube que ali estiveram representantes de diversos segmentos religiosos. Cada um, defendendo seu território, num lugar que, por excelência, é da população. E a defesa, seja na sessão da Câmara ou em qualquer lugar, deve sempre pautar pelo respeito aos outros. Que beleza. Numa sessão exclusiva, num lugar tradicional, é produtivo olhar para o vizinho com naturalidade. Lembremos que é um ato de bravura estar ali, tomando como princípio a igualdade perante a lei, sem deixar de lado a força particular diante de um grupo de semelhantes. Há o compromisso em trafegar numa rua sinuosa, cheia de percalços e narizes opostos, mas o dever em praticar o bem.

Tenho certeza que Deus quer isso de nós: pacificação. E, dentro do possível dos possíveis, união. E, dentro do que pareça impossível: que possamos compreender. Que possamos compreender o que leva o outro a crer ou a descrer. O que leva o outro a crer em tal formato. O que leva o outro a gostar daquela metodologia sacralizada. O que leva o outro a aceitar tal narrativa, de um jeito específico. O que leva o outro a se sentir melhor com tal indumentária ou figurino ou uniforme. O que leva o outro a valorizar alguns personagens reais ou abstratos. O que leva o outro a estar convicto da sua própria fé.

Mesmo com essa abertura para o diálogo entre os diferentes, é preciso sempre se perguntar por que o outro está seguindo aquela linha. Existe uma razão individual, que deve ser soberana. Existe uma história coletiva: um tempo e um espaço construídos. É salutar a reflexão e os porquês de todas as melhores maneiras, as mais gentis. No mínimo: parar para escutar a certeza do outro. Parar para escutar a noção de divindade que a outra pessoa declara ou alimenta. Esse exercício de saber parar e saber escutar com elegância já é um passo. É uma centelha para que a gente mesmo se enxergue.

Espero que esse tipo de iniciativa seja reproduzido em tom benéfico, em muitos outros ambientes, formais e informais. Tal prática não é reservada a político bê ou cê, a partido xis ou ípsilon. É uma conversa que deve ser ininterrupta, até que nossos preconceitos sejam eliminados. Pelo menos, que sejam diminuídos, a ponto de não ofendermos com palavras ou ações a opção religiosa do outro.

Digo isso, mas nem eu mesma sei se estou totalmente preparada. Não sei. Há alguns pontos de vista que ainda me incomodam, se fanatizados. Há alguns pontos de vista que me metem medo, de tão agressivos que são, em nome de um ideal religioso. Há alguns pontos de vista que ainda me confundem. Há alguns líderes que ainda me perturbam.

Procuro me apressar para entender. Avia, criatura. Avia, menina. Avia, mulher. Avia! Olho para os lados. De repente, paro e respiro. Respiro. Ei. Não. Digo para mim: essa procura não é com velocidade máxima. Vejo que isso nem requer pressa. Requer paciência. Requer paciência. Sou aluna e ainda não disciplinada com maestria nessa escola da vida, por isso me pego com notas baixas em tantas coisas. Preciso ampliar minha capacidade de compreensão. Preciso. Preciso. Eis-me aqui.

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