Sem pedir licença, Alice foi logo subindo no palco, pegando o microfone e falando que era aquilo mesmo, um por todos. Queria ser a presidente da turma, naquele dia vestiu-se de preto, queria dar um mote fechado e introspectivo, não sabia que era feriado. Estava lacrimejando porque um colírio havia perturbado a sua tarde daquela quarta-feira. Sim, quero ir, disse ela. O semblante do vestido se quebrava um pouco com o brinco amarelado, um tom quase dourado. Queria brilhar, mesmo assim. Aliviava a vontade desengonçada de Alice, que nem sabia que assim se chamava em homenagem à menina das maravilhas. Queria buscar algo melhor para todos, dizia aos colegas. Queria se firmar mesmo como presidente, organizar bingos e manifestações. Queria mesmo se sentir participante de uma fatia do poder da escola. Quem sabe reivindicar a quebra do monopólio da lanchonete. Alice chorava, mas reclamava de cada lágrima. Dizia que estava chorando porque era forte. Dizia que chorar era um exercício que havia aprendido com a professora de matemática. Explicava logaritmos e ninguém mesmo queria saber e ficava a explicação, aquela, sem perguntas. Não se conformava em contar somente com seus onze anos de idade. Escrevia cartas à direção da escola. Nem mesmo imaginava ser tão semelhante à menina do tal país que abrigava um coelho sempre atrasado. Naquele dia cívico-militar, apaixonou-se pelo tocador de pratos da banda da loja maçônica. Só por ele lembrar um toque chinês de um certo samurai que havia visto em filme. Ela nem sabia que era assim. Sempre em sintonia de indefinição, suspensa nas árvores das ideias, em tom de charada. Alice não era fácil. Não era mesmo. Aquele sorvete de morango que sujou o vestido parecia todo o culpado.
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