O complexo de vira-latas

“O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Nossa tragédia é que não temos o mínimo de auto-estima”. Essa declaração de Nelson Rodrigues retrata bem o sentimento chamado de “complexo de vira-latas” a que muitos estão assumindo nos tempos atuais, inclusive parlamentares que viajaram nesta semana para os Estados Unidos, bancados por recursos públicos, para falar mal do Brasil. É muito normal vermos hoje em dia frases como: “só no Brasil acontece isso”, “tinha que ser no Brasil”, na compreensão de que o mundo todo presta, menos o Brasil.

A expressão “complexo de vira-latas” foi cunhada também por Nelson Rodrigues, numa crônica escrita às vésperas da Copa do Mundo de 1958, quando ele se referia ao pessimismo que tomava conta dos brasileiros quanto ao sucesso de nossa seleção. Essa sensação prévia de falta de confiança foi causada pelo trauma vivenciado por ocasião da inesperada derrota para o Uruguai na decisão de 1950, em pleno Maracanã lotado. Ele afirmou: “por complexo de vira-latas entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca perante o mundo”.

Dali por diante toda vez que vemos alguém se lamuriando pelo fato de ser brasileiro, dizemos que ele está alcançado pelo “complexo de vira-latas”. Na verdade, antes de falarmos mal do Brasil, é necessário que façamos uma autocrítica no sentido de promovermos mudanças de mentalidade e de comportamento. Transformar essa mentalidade subalterna, de desconhecimento dos nossos próprios valores, de ignorância dos acontecimentos gloriosos de nossa história, em sentimento de honra patriótica. Somos um povo alegre, trabalhador, sofrido, mas corajoso. Não podemos deixar que o desânimo, a desesperança e o desalento, façam com que nos sintamos incapazes de reagir em busca de modificar o que possa ser apontado como nossas deficiências e imperfeições.

Eu não embarco nessa do “complexo de vira-latas”. Tenho orgulho de ser brasileiro. Nossa terra é bonita e rica por natureza, em todos os sentidos. Temos defeitos sim, mas temos também muitas qualidades, e ao invés de realçar nossas falhas, devemos valorizar nossas peculiaridades positivas, nossos predicados invejados pelo mundo, nossos atributos de excelência, que são muitos. Essa negação de amor à pátria representa atitude de sujeição ao império das vontades vindas de fora, submissão ao estrangeiro, fraqueza de personalidade.

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