Questão de ser

Reflito sobre os desafios da raça humana e percebo que o doce Papai Noel, com suas tantas lendas e origens, virou questão de ter. Estamos na época em que se fala muito nele, ganha-se muito dinheiro em nome dele, veste-se de vermelho para dizer que se trata de uma representação dele. A mídia escarafuncha nosso mais profundo quilate emocional para que possamos sorrir ao bom velhinho. Aciona nossa vontade de ganhar presente. Nossa sincera questão de ter.

O sentido da época natalina, que remete no seu termo a nascimento, é abarcado por nós nesse pensamento material. Quer dizer, nem todos nós. Nós que gostamos da questão de ter. Se o leitor está achando que eu não gosto de ganhar presente, está enganado. Eu mesma me encaixo nessa questão de ter. Certeza. Amo ganhar presentes. Gosto, ainda mais, de dar presentes.

Comemorar o nascimento de Jesus, para muitas religiões, é, sim, uma questão material também. Mas uma questão material positiva, transformando esse aniversário na alegria de quem está na Terra, em carne, osso e sentimento. Comemora-se. Trocam-se presentes. Símbolos para esse momento de festa. Essa sequência sempre foi, para as minhas práticas, tranquila e aceitável. Tem gente que escolhe o Natal para me dar um presente. O que vou fazer? Receber, com muita alegria. Se eu puder, retribuo.

Mas a questão de ter, nesse caso, também é uma questão de ser. Digo isso porque me emocionei, como se tivesse recebido um enorme presente, do meu professor, amigo e colega radialista Reudesman Lopes. Recebi um e-mail, com o anexo pedido ao Papai Noel, em favor do Museu do Futebol de Cajazeiras.

O museu, em si, é um presente. Então, meu caro Reudes, quem entende a força de um museu para uma cidade, na mais fina essência, é quem abraça a questão de ser. Cada pedaço de linha daquelas camisas, cada cheiro de metal daquelas medalhas e troféus, cada documento guardado, apenas, à primeira vista, parece uma questão material. E é mesmo uma coleção, em maior envergadura, de dezenas de objetos reais.  

Acontece que, sabemos, em volta de cada elemento que citei, há um fragmento gigante de um povo. Há, em cada partícula, um representante de uma família, de um nome, de um sobrenome, de uma região. E não vem sozinho, pois esporte é conjunto. Vem uma turma. Vem todo um período histórico, que arrasta a gestão de um clube, de um grupo ou agremiação, de uma escola, da Câmara Municipal, do Executivo Municipal. Quem se debruçar com paciência, acha pistas para momentos coletivos vividos por alguma causa local, regional, nacional ou internacional. Quem sentir, de verdade, vê-se, de outra forma, por ali, por meio de alguém, naquelas fotos, como se fôssemos todos continuidade daquelas cenas, pois estamos plantados, nascidos, de forma oficial, no mesmo chão.

Santa Claus, Santa Klaus, Papai Noel, Nöel, veio na minha caixa postal com os cabelos brancos do meu querido professor de Educação Física, idealizador de uma causa que é, desde sempre, um presente para a nossa memória. Um presente que não cabe nestas palavras. É questão de ter. É questão de ser. Feliz Natal.

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