O futuro de Marcelo Odebrecht

Muitos duvidavam que ele seria preso pela Operação Lava Jato. E, se fosse preso, logo ganharia a liberdade. Ele permanece mais de seis meses na preventiva. É bem verdade que foi um dos últimos empresários a ser recepcionado pelo japonês da Federal. Demorou, mas foi. E é verdade também que a cúpula do Judiciário brasileiro não autorizou o seu relaxamento prisional. Logo, não se trata de implicância de procuradores e delegados federais e do juiz Sergio Moro. Até o presidente do STF, Ricardo Lewandowski colocou sua pá de cal no desejo de Marcelo Odebrecht dar adeus à prisão. Esta decisão teria sido, aliás, a causa do nascimento, dizem, da ideia do manifesto dos advogados contra a Lava Jato.  Já entre deputados o clima é outro.

Mesmo preso, Marcelo Odebrecht recebeu louvação de herói na CPI de Brasília. Nem parecia um indiciado à disposição da força-tarefa contra a corrupção. O palco foi armado, não para interrogá-lo, mas para enaltecê-lo. Uma enfieira de parlamentares derramou elogios no microfone, imbuídos do sentimento da gratidão. Também pudera, são eternos caça-níqueis para suas campanhas eleitorais, verdadeira “frente ampla” de partidos e facções políticas. Ah, o nosso Congresso Nacional!

No Paraná, contudo, prosseguem as investigações.

Semana passada, o Ministério Público Federal denunciou ao juiz Sergio Moro o grupo Odebrecht. Não é um grupo econômico qualquer. Uma multinacional. Existe há mais de 70 anos, atua em toda parte. Nos Estados Unidos, Europa, América Latina e África. No Brasil é o primeiro em vários setores. O MP pede a condenação de cinco dirigentes empresariais e do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari, enquadrados em três crimes: corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Nas alegações finais, também se requer a devolução de 6 bilhões de reais. Um exagero, só explicado pelas pesadas multas em cima de quem desviou tantos recursos da Petrobras. O processo, agora na Justiça, está nas mãos de Sergio Moro, a quem cabe dar a sentença de primeira instância. Portanto, existe muito chão pela frente.

Vi na televisão o advogado Nabor Bulhões.

O mesmo que Collor contratou em 1992. Agora defende Marcelo Odebrecht. Com fala aprumada, traçou o perfil de um santo. São Marcelo, o protetor dos políticos… Para ele, a denúncia não tem provas nem nada consistente que o ligue ao esquema de desvio de 300 milhões de reais. Nenhum dos três delatores premiados (Youssef, Paulo Roberto e Barusco), o acusou diretamente. As testemunhas arroladas, em número de 97, isto mesmo, 97, também o inocentaram. Tudo isso, segundo o advogado Bulhões, que adota a velha máxima de guerra: a melhor defesa é o ataque. Portanto, ele acusa a força-tarefa do Paraná de operar meios ilícitos, tortura psicológica para constranger os denunciados e ameaça: a democracia corre perigo, as garantias individuais estão em jogo. Como se vê, Bulhões segue a mesma linha do manifesto dos advogados, que carrega as tintas em cima dos investigadores, acusados até de usar métodos semelhantes àqueles aplicados na ditadura! É duro mexer com poderosos.

Quantos anos Marcelo Odebrecht vai pegar na primeira instância? Difícil saber. E quando chegar à instância superior? O Tribunal em Brasília acatará teses que estão sendo geradas, cheia de artimanhas processuais? Só Deus sabe. Paira no ar, contudo, um sentimento de que haverá punição até o fim da linha. A gente começa a perceber que é duro ser corrupto no Brasil de hoje. Até mesmo aqui no sertão da Paraíba.

P S – Agradeço a monsenhor Gervásio Queiroga o envio da íntegra da carta do Vaticano ao bispo do Crato sobre padre Cícero.

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