As redes que nos envolvem

Aos heróis que têm a paciência de me ler: antes, no século passado, antes da televisão, havia o costume das famílias botarem as cadeiras nas calçadas e conversarem sobre os mais variados temas: como minha mãe sabia (sempre soube) agradar as visitas, na nossa casa por vezes faltavam cadeiras para tantos visitantes: Dr. Severino Cordeiro, Dr. Higino Pires, Leopoldo Pinheiro (diretor da Lira Pinheiro) , Eudoro Portela (gerente do Banco do Brasil na época), e até Dr. Walter Sarmento (Juiz  de Direito, casado com uma prima de meu pai) apareciam com mais ou menos frequência na nossa casa, e se conversava até umas oito e tantas horas da noite. E em todas as ruas de nossa cidade, se reuniam dessa maneira nossos concidadãos, alguns indo de roda em roda para comentar as novidades.

Então veio a televisão, que eu conheci como grande novidade no Rio de janeiro, aqui chegou, e com suas novelas, passou para dentro das casas esse novo tipo de lazer, e essa confraternização se apequenou, perdeu o brilho da conversação entre vizinhos, mas antes ou depois dela, ainda se conversava. E cada vez mais as conversas eram no interior. Me lembro muito bem de Zeilto Trajano, minha mãe, e alguns eleitos ficarem a conversar até altas horas, em companhia de alguma bebida.

Depois, já na faculdade, a gente via a novela das sete, assistia o Jornal Nacional e se juntava para estudar na casa de algum colega. Isso por uma a duas semanas, eram os tempos das provas. A gente só tinha mesmo o sábado para “sair com as namoradas”, o resto era muito livro.

Quando eu, no meu primeiro curso de engenharia, acabava de chegar a havia a novidade das novidades: o computador”, que no instituto de informática da UFPE era um IBM 1130, hoje uma relíquia de museu, e a gente pagava a cadeira de informática, em que haviam umas linguagens que acho que muito poucos conhecem: Fortran, Cobol, e outras, que eu nem me lembro, e a tal linguagem de máquina a binária, que só cai em concurso hoje.

Depois vieram os computadores pessoais, como o que estou usando agora e finalmente o celular. Super – democrático, todo mundo tem que ter, facilita muito os negócios e o trabalho, e com ele as redes sociais, que servem para tudo e todo mundo que eu conheço usa. Cristo falava: “se tiveres como amigos o número de dedos de uma mão, serás um homem feliz”. Eu no Facebook, tenho quase 800, isso significa que 795 não são verdadeiros amigos nas palavras de Cristo, ou o conceito de amigo há de ser mudado.

E veio junto o tal do WhatsApp, que a gente fala instantaneamente com os outros e manda e recebe mensagens e vídeos. E todo mundo aderiu a isso também, se pode falar com qualquer pessoa a qualquer tempo, mas tudo tem um limite: existem comunidades que não são adequadas para você e é preciso muito critério para escolher esses grupos. Eu fico com alguns familiares, outros de trabalho e outros de lazer.

Tenho o cuidado de ver sempre que posso  meus contatos, quem aniversaria, e outras coisas que me interessam, mas  bem recentemente me colocaram num grupo de louvores a Nossa Senhora das Graças, eu como todo devoto, almejo suas graças, mas tive a surpresa de ser respondido pela própria Nossa Senhora das Graças. E o que é que a Rainha dos Céus pode querer com esse servo indigno? Então deve ser o administrador se passando pela santa. Relevei.

Ontem, eu estava em um grupo de trezentas pessoas administrado por pessoas que eu simpatizo, mas de manhã acordei com nada menos de 500 mensagens. Não posso perder tanto tempo vendo tantas mensagens e saí desse grupo.

Tudo tem limites, e acho que estamos entrando em um limiar perigoso. Já estou meio velho, mas as novas gerações vão ter que lidar com isso com muito mais cuidado. Os mais novos não tem valores formados…

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