Encontro com Zé Limeira, poeta do absurdo

Só nos chegam notícias ruins. Aqui e acolá, uma boa. Sequestros, assaltos, agressões, bombardeios, sede, fome, mortes em qualquer lugar. Aqui e no mundo todo. Na tela, telinha ou telona. Imagine o tormento dos personagens reais. Cidades inteiras arrasadas por chuvas de bombas alçadas pela aperfeiçoada tecnologia da destruição. Tudo isso para afirmar o poder oficial de chefes de Estado ou o poder marginal no mercado da morte.

O medo está ao redor.

Usam métodos, processos, artimanhas de fazer inveja a Lampião, com seus rudes bilhetes, assinados com a falsa patente de “capitão”, autorizada por padre Cícero. Assim diz a lenda. Lenda, porém, não é o que vemos hoje. Há três semanas fugiram dois apenados da “penitenciária de segurança máxima”, de Mossoró! Sem conhecer o terreno onde pisam (os dois são do Acre), num raio de poucos quilômetros, abrigam-se em casas, utilizam celular roubado, alimentam-se, deixam rastros, são vistos por moradores da área. Fantasmas? Como não ter medo? O poder constituído, (representado pela presença do Estado na esfera da segurança pública, forças policiais, Justiça), encontra-se acuado diante do “poder paralelo”. E nós mortais? Inseguros. Serei o próximo? Há quem pergunte.

Fui dormir com a cabeça inchada.

Parei na beira da estrada para desafogar a bexiga. Ao me virar, vejo um homenzarrão se aproximar. Pano cor de sangue enlaçado no pescoço, chapéu de aba larga, rede-matulão, dedos brilhosos ao sol, pés enormes, viola traspassada que nem rifle papo-amarelo. Assombrada, a esposa treme: entre, entre logo, vamos embora… ligue, ligue!

– Vosmecê tá precisado dum empurrão?

Voz de trovão!

Zé Limeira, que diabo você faz por essas bandas?

– Tô indo pra cujuminâncias do mundo… um lugar doce chamado de Melancias, por modo de fazer cantoria.

Eita, lá perto de Cajazeiras, é perigoso andar a pé, aceita uma carona!

– Me adesculpe o senhor, esse nego Zé Limeira não se atrepa em bicho-motor.

Perguntei a ele, entendido em filosomia, pilogamia, prodologia, quando esse inferno vai acabar.

Zé Limeira me olhou de banda. Tirou a viola, arranhou as cordas, respostou:

“Um General de Brigada
Com quarenta grau de febre
Matou um casal de lebre
Prá comê uma buchada…
Quando fez a panelada
Morreu e não logrou dela,
Porco que come em gamela
Prova que não tem fastio,
Peixe só presta do rio,
Piau da trompa amarela.”

Eita mundo absurdo! Deu uma gaitada ouvida até no Serrote do Quati!

Aí, me sentei na rede, suado que nem tampa de cuscuz.

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