Eliézer Rolim: riso e choro em Cajazeiras

ANDRÉ LUIZ MAIA

Inspiração para muitas histórias, contadas através da dramaturgia. O escritor de peças de teatro, professor, arquiteto, cenógrafo, cineasta e diretor Eliézer Rolim tem suas raízes em Cajazeiras. “É a terra natal onde chorei e ri pela primeira vez”, ressaltou. Ele aprendeu a nadar no Açude Grande e foi no Tênis Clube que teve contato pela primeira vez com o universo teatral através da dama do teatro de Cajazeiras, Íracles Pires. “Ela estava ensaiando teatro, a peça se chamava Piquenique. Depois fundei no quintal de casa o Clube do Mickey e comecei a escrever minhas primeiras peças de teatro. Meus primeiros atores foram meus vizinhos Marcélia Cartaxo, Soia Lira, Nanego Lira, meu irmão Lincoln Rolim, entre outros”, revela.

Sobre Íracles, ele enfatiza seu protagonismo social e político na cidade, principalmente durante a década de 70. “Eu vi de perto a história de Íracles, que se transformou em um mito de Cajazeiras. Estudou teatro na Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, e quando voltou para a cidade era uma senhora casada. Apesar disso, começou a trabalhar com o teatro e fez um trabalho social incrível, através de um programa de rádio que comandava. Ela conseguia transitar com facilidade entre as classes mais carentes e as mais ricas, além de ter feito uma revolução, por ser uma mulher com tamanha liberdade naquela época”, destaca.

As lembranças da infância são as mais reluzentes em sua memória. Citado mais de uma vez, o Açude Grande é um local de afetividade. “Era o local onde assistia os pores-do-sol mais lindos da minha vida, o próprio açude é um dos lugares mágicos da minha casa”, conta. As festas do Cajazeiras Tênis Clube em dias comemorativos, os pés de cajarana no bosque do clube, cenário de peraltices, pulando de galho em galho enquanto brincava em meio à natureza. Na adolescência, as paqueras da Praça João Pessoa, onde o subir e descer das ruas demarcava o ambiente do flerte. “O Jovem Clube, a boate da cidade, onde conheci a luz negra e a música dos Beatles. A instalação do Parque Lima e do Parque Maia, onde assisti ‘a mulher que vira macaco”‘, lembra.

A vivência na cidade lhe ofereceu experiências que levou por toda a vida. Seus trabalhos teatrais apresentam uma forte influência da organização cinematográfica para se contar uma história e foi no Cine Éden que Eliézer revela ter assistido os primeiros filmes de sua vida pela fresta da porta. Seus personagens são trabalhados em cima dos arquétipos humanos que teve acesso inicialmente na cidade sertaneja. “Costumo dizer que em Cajazeiras conheci a espécie humana, pois foi lá que vi todo tipo de gente que depois reconheci nas cidades do mundo que visitei”, afirma o dramaturgo.

Obras principais – Algumas das principais obras criadas para o teatro por Eliézer Rolim são Beiço de Estrada, Como Nasce um Cabra da Peste, Adeus Mamanita. “Minha trajetória como dramaturgo e cineasta nasce em Cajazeiras e sempre volta para lá na figura de um personagem ou na memória”, enfatiza o diretor. Sua experiência em cinema mais recente, O Sonho de Inacim é uma prova concreta deste “cordão umbilical invisível” que sempre o faz retornar às origens.

Em 2000, comemorava-se o bicentenário do fundador da cidade e ascendente de Eliézer, o Padre lnácio Rolim. No filme, são retratadas imagens do Sertão de agora, com seus problemas, sua dinâmica e modo de vida, o povo, seus costumes, tradições e manifestações culturais através dos olhos de lnacim, que tem o poder de voltar no tempo e dialogar com o padre através de seus sonhos. “O Sonho de Inacim foi um processo difícil, foram 10 anos desde a captação de recursos até a finalização do projeto. Ele representou o meu retorno a Cajazeiras e o resgate da memória do Padre Rolim”, explica Eliézer, que dirigiu e roteirizou a produção.

Seu trabalho mais recente, o espetáculo retrata um trágico acontecimento que teve como cenário o Teatro Santa Roza, em João Pessoa. Em 1900, o mágico sueco John Balabrega e seu assistente Lui Bartelle morriam no palco em consequência de uma explosão com um projetor movido a querosene. “É um espetáculo contado pelos fantasmas que habitam o Santa Roza, mas também é sobre a efemeridade da existência humana”, completa Eliézer Rolim.

ANDRÉ LUIZ MAIA É JORNALISTA. MORA EM JOÃO PESSOA (PB)

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