Noções de História Natural do Padre Rolim

RAU FERREIRA

Grande obra nos deu o padre Inácio de Souza Rolim, em seu compêndio ‘Noções de História Natural’ (1881). Cajazeirense nascido no Sítio Serrote, em 22 de agosto de 1800. O filho de Vital de Souza Rolim e Ana Francisca de Albuquerque ordenou-se em 1825, egresso do Seminário de Olinda, em Pernambuco.

A sua mente privilegiada lhe propicia a assunção à Reitoria, cargo que advém do domínio do francês, grego e teologia. Contudo, amando a simplicidade, retorna a Cajazeiras quatro anos depois para entregar-se ao sacerdócio sublime de “Iluminador de Espíritos”.

Como educador, reúne em seus bancos alunos que se tornariam influenciadores nas mais diversas áreas do conhecimento humano, entre eles: Irineu Joffily, historiador, advogado e jornalista; cardeal Arcoverde, clérigo; Capistrano de Abreu, escritor e historiador; e Cícero Romão, político e religioso.

A sua primeira casa de ensino foi construída em 1836. Essa foi ampliada para atender as necessidades e soerguer assim o primeiro colégio. O educandário funcionava em uma casa de fazenda, onde o vigário e dois sobrinhos lecionavam.

Nomeado professor de grego do antigo Ginásio Pernambucano (1855), e sentindo deficiência daquela cadeira, escrever a sua ‘Gramática de Grego’ (1856), para uso de seus discípulos. A obra foi reeditada em 1993, pela Halley Gráfica e Editora.

O Rolim “naturalista” só veio desabrochar com o livro de ‘Noções da História Natural’ (1881), em que trabalhou a paciência e a humildade. O título era justo, pois servia tão somente “para entretenimento dos seus alunos”, ou como ele mesmo descrevera: “Destinado somente para estimular a curiosidade dos meus patrícios do Sertão, onde moro, e me julgo na obrigação de concorrer como puder para o desenvolvimento da ilustração que, no nosso país, ainda se acha na influência”.

Há quem diga que, na verdade, o livro do velho professor é um resumo de três grandes tomos com mais de 500 páginas, todavia a conotação que lhe deu o mestre, traduzindo o seu conhecimento empírico das coisas. Não obstante os seus 80 anos de idade, se aventurou o Padre Rolim a descrever a fauna e a flora de sua região sertaneja.

Eis algumas de suas lições: “O limite entre o reino animal e o vegetal não é sempre tão fácil de reconhecer como se julgaria à primeira vista […]”; e “na antiguidade, a botânica não formava ainda uma ciência: era um montão confuso de conhecimento imperfeito, sem unidade nem ligação comum. Três nomes aparecem nesse primeiro período: Teofrasto, discípulo de Aristóteles, Discórides, que vivia em tempo de Nero, e Plínio, naturalista que morreu em tempo de Tito”.

Irineu Joffily – em suas ‘Notas sobre a Parahyba’ – ao mencionar a cidade de Cajazeiras, no Alto Sertão paraibano, nos idos de 1891, relata que “o venerando ancião, Padre Rolim, filho dessa localidade, e o fundador da cidade, ahi reside, contando mais de 90 annos. De seus trabalhos litterarios existem publicados um – ‘Tratado de História Natural’ – e uma ‘Grammatica da Língua Portuguesa’”, relatando que o seu célebre colégio prestou relevantes serviços à mocidade dos sertões da Paraíba, Pernambuco e Ceará”.

O livro de noções do Padre Rolim foi escrito em 1880 e impresso na capital do estado no ano seguinte, com 122 páginas e prefácio do próprio autor. Adotada pela maioria dos estabelecimentos de ensino da Paraíba, tornou-se referência do ensino secundário do nosso estado. Essa obra ainda hoje é objeto de estudos universitários.

RAU FERREIRA É INTEGRANTE DA ACADEMIA DE LETRAS DE CAMPINA GRANDE (ALCG)

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