Campanhas mais limpas

Minha família sempre manteve um pé dentro da política, tenho entre meus ancestrais diretos nada menos de quatro cidadãos que governaram a cidade: Três no tempo do Império, em que estes e outros por conta de suas extensas proles, são ancestrais de muitos nossos concidadãos. Mas a não ser um caso de alienação total, ou mesmo insanidade, todo mundo se interessa “pela danada da política”.

Minha primeira lembrança, meio falsa, pois de tanto me contarem esta estória, eu posso me lembrar do tanto que contaram: Foi que um primo nosso de Sousa vaio nos visitar durante a campanha e a gente mandava pregar uns cartazes do parente candidato para ele ver. Na visita quando ele estava nossa casa, eu cheguei e disse aos gritos: “Lavoisier Pires de Sá… Rasgaram seu retrato!!!”. Os risos devem ter sido gerais, mas mesmo naquele tempo se tinha o costuma e de se pregar e rasgar cartazes, e a cola era o “grude de goma”, pegajoso, melequento, que só foi substituído por adesivos e outras colas recentemente.

Outra lembrança, essa mais real, era dos palanques de caminhões que se montavam, principalmente na Praça João Pessoa em que eu pedia para montar na corcunda de meus pais ou algum amigo deles, para ver quem eram os candidatos. Me lembro perfeitamente de João Agripino, moreno, magro, alto, e de Ruy Carneiro, com os cabelos brancos. Mas o que quero passar para meus parcos leitores era que o palanque ficava armado ali no bar/lanchonete que chamávamos “A Merendinha” até o comício do outro lado, às vezes mais de uma semana atrapalhando o trânsito de veículos e pedestres.

Depois, quando fui morar no Rio de janeiro, uma passagem me marcou a memória, o Palácio Monroe, antigo Senado Federal, que se situava no meio da praça que conhecemos como Cinelândia, o que impressionava era que suas paredes eram totalmente cobertas por cartazes, muito de políticos, de alguma campanha no começo doa anos 70, eram tantos que se arrancavam com espátulas, e depois se lavava (o mesmo grude de goma), e no outro dia já estavam de volta. Depois colocaram uma placa, dizendo da proibição de se pregarem cartazes nas paredes, e logo em seguida apareceram estas com os nomes dos candidatos riscados com carvão ou giz (naqueles tempos não existia a tinta spray com bola de gude – ainda bem), e eu perguntei para minha mãe, que sempre me acompanhava o porquê de profanar um prédio histórico daquela forma, e ela me respondeu: “Isso é coisa de país subdesenvolvido!”. Ouso pensar que isso influenciou na decisão de demolir o Palácio…

Tempos depois, já de volta a Cajazeiras (na verdade nunca saí daqui), Vi as primeiras eleições para governador e presidente, e como vocês devem notar, o subdesenvolvimento daqui era exatamente como o de lá, e esse negócio de pregar cartazes de políticos emporcalhavam a cidade de forma impressionante. Um momento marcante foi numa eleição para Governador e Deputado, em que eram os candidatos do PT, por uma tendência, Joaquim Alencar (articulação, salvo engano), e por outra Chico Lopes (convergência Socialista), que as equipes, durante o comício ficavam colando o cartaz de seu candidato, enquanto do outro lado ficavam pregando em cima do cartaz do adversário, outro de seu candidato, uma cena tão ridícula, que a então candidata a Vice-governadora da coligação – Emília do então PCB, emitiu o seguinte comentário: “É esse povo que quer governar o país; desse jeito?”. Mudou o país, mudou o PT, e se aprendeu muita coisa de lá p’rá cá.

Ainda havia a poluição sonora: Para dar um exemplo, vou repetir um jingle que até hoje fica a poluir minha mente: “Ô…Ô…Ô, Lira é nosso Senador…”. Arghh… De manhã, de tarde e de noite, uma verdadeira lavagem cerebral, entrou e não saiu até hoje. Pior que os forrós eletrônicos que poluem os neurônios das novas gerações.

Um pouco depois, na época de campanha, Estava no centro sul, mais precisamente em Minas e São Paulo, e fiquei espantado: Nada fazia lembrar, a não ser por pequenos detalhes, que havia uma campanha eleitoral em curso. Imediatamente me veio a lembrança o comentário de mamãe, e pensei: Parece que, pelo menos por aqui, já começamos a superar o subdesenvolvimento. Mas por aqui, a coisa continuava a mesma: Quando chegava alguém de fora, a a gente queria mostrar que tinha havido um grande comício: levava o sujeito para o local, e mesmo passada mais de uma semana, ainda haviam vestígios impressionantes do evento: panfletos, bandeirolas e outras coisas, delimitando a área. Hoje, em um, no Maximo em dois dias, tudo está relativamente limpo, melhoras, até por imposição da Justiça Eleitoral, aconteceram.

Estive recentemente em João Pessoa, e o que vi realmente me impressionou, Antes que a gente tinha que sair desviando das pessoas com bandeiras, e nos sinais, de gente querendo adesivar nosso carro, testemunhei algo semelhante ao que vi no Sudeste: uma cidade “normal”, funcionando sem que se soubesse a cada esquina, que há uma campanha eleitoral em curso, então fica minha pergunta: Será que estamos ficando civilizados? Não creio, há todo um caminho pela frente, mas pode ser um começo, esta é uma forma de se começar a tirar a sujeira dos nossos costumes políticos. Depois… 

Tinha a intenção de tecer um comentário sobre o Fenômeno Gobira, mas li um texto escrito pelo mestre Frassales, exatamente com este título, que apresenta em suas opiniões, muito e de melhor forma, e com outro título, sobre o mesmo assunto, um artigo do Prof. José Antônio, todos Irretocáveis, o que eu escrevesse ficaria redundante, até em respeito a estes, recomendo sua leitura.

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