Eles são “patriotas”?

Fico muito incomodado em ver esses manifestantes antidemocráticos que há mais de vinte dias estão instalados em frente aos quartéis do exército ou bloqueando rodovias federais e estaduais, serem classificados como patriotas. A bem da verdade, só eles mesmos se consideram assim. Nesses atos encontramos, tanto pessoas ingênuas, manipuladas por líderes da extrema direita, quanto indivíduos que se aproveitam para dar vazão a instintos de bandidagem.

Entre os “inocentes úteis”, percebemos que muitos não compreendem sequer as pautas que reivindicam, que vão desde a volta da ditadura militar, à reedição do AI-5 (sem saberem historicamente o que foi isso), às ameaças à democracia, ao desrespeito de preceitos constitucionais, à desconsideração das instituições republicanas, dentre outras propostas golpistas. Quem tem esse tipo de comportamento não pode ser identificado como alguém que se apresenta como um patriota. E, sem a noção dos limites do ridículo, protagonizam cenas que envergonham a todos nós brasileiros e, imagino, aos seus familiares sensatos.

E existe uma pergunta que não quer calar. Essas pessoas não trabalham? Como conseguem ficar quase um mês sem comparecer para o exercício de suas atividades laborais? E as estruturas ali montadas, com alimentação, carros de som, barracas de lona, banheiros químicos, estão sendo bancadas por esses manifestantes? Claro que não. Estão sendo utilizados como “massa de manobra”. Deliram nas ilusões impossíveis de serem realizadas. Alimentam-se das fake news propagadas nas redes sociais e nas teorias de conspiração urdidas estrategicamente.

As rodovias foram ocupadas por baderneiros que se dizem caminhoneiros. E se acham no direito de impedir o direito de ir e vir dos cidadãos, concedidos por nossa Constituição. Se arvorando proprietários das vias rodoviárias, não só proíbem a circulação por elas, como incendeiam veículos dos que discordam de seus posicionamentos. Não se sensibilizam com situações dramáticas vividas por condutores de transportes que se deslocam para atender necessidades de urgência, pelos mais diversos motivos, saúde, trabalho, estudo (como os que desejavam se submeter a provas do Enem). Isso tem nome, é terrorismo. Desafiam as autoridades constituídas, como se estivessem protegidos por forças poderosas do mundo político e econômico, confiando na impunidade.

O que nos deixa mais tranquilos é saber que essa minoria que se instala nesses atos de protesto, absurdos e irresponsáveis, não pode, nem deve, ser confundido com os milhões que votaram no candidato derrotado. Os que decidiram ocupar vias públicas, inconformados com o resultado da eleição presidencial, não representam um décimo do contingente de eleitores do mandatário que não conseguiu a reeleição. São fanáticos que não admitem ouvir o contraditório, nem agir conforme o que se espera num comportamento civilizatório. Empunhando bandeiras do Brasil e vestindo camisas da CBF, surtam, cometem ilegalidades e enchem o saco da população, adotando toda sorte de posturas estapafúrdias, sem o menor constrangimento. Não podemos chamar isso de patriotismo.

Cantar o hino nacional voltados, em reverência, para um pneu de caminhão, usar seus aparelhos celulares colocados na testa para solicitarem a ajuda de extraterrestres, rezar com as mãos postas nos muros dos quartéis pedindo socorro aos militares e a Deus, não são e nunca foram sentimentos patrióticos e não têm nada de épicos ou de amor cívico. Isso é um patriotismo trapaceiro, manifestado tanto por incautos, quanto por elementos que se acostumaram à prática de ações criminosas.

Ainda bem que essas manifestações começam a minguar. Eles estão se cansando, tanto por enxergarem a verdade que insistiam em não perceber, quanto pela advertência de que poderão ser punidos penalmente pela pregação de golpismo, o que é considerado crime. Os bolsonaristas verdadeiramente patriotas respeitam o jogo democrático e não apóiam essas estimuladas atividades que buscam produzir convulsão social. Os que não querem ajudar o fortalecimento da nossa democracia e a reconstrução de uma nação justa e solidária, pelo menos não atrapalhem.

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