Diálogo entre dois filósofos de bar

– Olá, Platistóteles! Que horas são, por favor?

– É meio-dia, Aristão, pontualmente.

– Engraçado…Tantos limites e deslimites da realidade não servem para explicar um fenômeno vital, mas invisível: o Tempo. Falo da grande esfera temporal, do condicionador de vontades, de raciocínios, de lucros e de corações.

– Claro, amigo, acredito. O Tempo está em quase tudo, mas, acho que esteja, pelo menos, na atmosfera, no leite fervendo, no bilhete do ônibus, na idade, na afirmação e na negação.

– Veja bem: o grande Tempo nunca é esgotado. No ato da fala, por exemplo, ele tenta ser concretizado: o presente é a ação na voz; o futuro são as próximas palavras faladas; e o passado, quase imperceptível, é guardado numa memória breve, tocada quando necessário.

– Também tenho a sensação de que Tempo não é Deus, mas Deus é Tempo; aliás, este somente existe com a permissão divina. Acredito numa espécie de relógio coletivo, comandado pelo Criador. E, a partir disso, imagino Deus segundo os meus acertos e imagino o Tempo, segundo os meus desacertos.

– Ah, já sei! Porque Deus é verdade absoluta e Tempo é verdade doada por Ele, mas conduzida pelos homens.

– Isso.. Por isso, relógios humanos se partem, muros caem, previsões são falidas. E aquelas famosas: “tempo é ouro”; “dar tempo ao tempo”; “tirar de tempo”; “vamos dar um tempo”; “o tempo está ruim”; “estou sem tempo” são invenções humanas que, tranqüilamente, podem ser apagadas, derrotadas a qualquer momento.

– É…

– Garçom, a conta! Olhe as nuvens: o tempo está fechando.

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