Íracles Pires: 80 anos

Dia 15 de janeiro de 2013 … Se tivéssemos o prazer de tê-la conosco, minha mãe, Dona Íracles Pires (Dona Ica), estaria completando oitenta anos, mas quis o destino que ela tivesse sua obra abreviada de forma trágica em 1979.

Ela era oriunda da família Matos Rolim, cujas origens remontam aos fundadores dessa cidade, mas por conta de seu pai, o engenheiro Adriano Brocos, e, posteriormente, pelo casamento com Dr. Waldemar Pires, adquiriu os nomes com os quais iria ser conhecida na nossa comunidade e fora dela, apesar de que ela mesma achasse que a fama de sertanejo “nunca ultrapassa a primeira porteira fiscal”. No entanto, pelo mais que passa o tempo, ela teima em continuar atual.

Vamos relembrar alguns aspectos para embasar o que estou afirmando: sem querer usar e expressão evangélica “naquele tempo”, relembro uma conversa que assisti de minha mãe com o SI. Leitão (Francisco, que recentemente li as memórias de seu irmão Deusdedit e soube que Seu Leitão tinha o carinhoso apelido de Chicola). Mas retomando ao motivo desse artigo, ele era secretário da prefeitura na, se me recordo bem, de Dr. Quirino, e comentava que a Aeronáutica tinha exigido algumas obras para que o antigo aeroporto não perdesse a homologação, e Leitão respondeu, um tanto profeticamente: “Dona Ica, se cassarem, a gente constrói outro”. Ao que ela respondeu de modo igualmente profético: “Outro, Leitão, só acredito pegando; nem vendo”.

Não sei se foi nessa época, mas depois de mais de trinta anos, minha mãe octogenária ainda não poderia, pegar, pois apesar da enorme e impressionante obra feita à saída oeste da cidade, o que está lá é oficialmente um campo de pouso, a homologação ao aeroporto ainda está por vir.

Também é bom relembrar a promessa de campanha do senador Vitalzinho, a ligação da Ferrovia Transnordestina até João Pessoa, que colocado pelo senador no plano plurianual, nossa “querida presidenta” nos fez o favor de vetar e ninguém se manifestou. Se fosse viva, ela certamente trataria desse assunto com o interesse que está a merecer. Fomos desprezados, tratados como estrangeiros no nosso próprio país e todo mundo fica naquela omissão criminosa, a se contentar com as esmolas dos programas sociais.

Esses são pequenos exemplos mar cantes na breve, mas produtiva vida de Dona Ica, caso na ocasião surgisse uma ideia; algumas ela tinha e o teatro que vai ser reformado leva seu nome. Está aí para provar. Ela encampava ou liderava e não importava quem estivesse ao seu lado, podiam ser gregos ou troianos, quem quisesse, ou pudesse ajudar, ela estava à frente de tudo que pudesse acrescentar à sua terra e à sua gente. Continua atualíssimo o seu exemplo.

Provavelmente não seria por acaso que quinze dias antes de seu aniversário, a primeira mulher tome posse como prefeita de nossa cidade; tanto aqui, quanto onde ela está, poderíamos considerar um bem vindo presente. Se viva e octogenária, ela, juntamente com todas as mulheres cajazeirenses, se consideraria homenageada.

Fica o registro dessa data, que deve ser relembrada por nós, seus descendentes, e por toda a nossa comunidade. Quem fez em vida deve ter seus feitos proclamados mesmo depois de morto; é nossa memória, é o que nós humanos nos distinguimos dos irracionais, apesar de determinadas vezes sermos tão parecidos…

CORREIO DAS ARTES – ANO LXIV – Nº 7 – SETEMBRO/2013

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