O hino

Não recomendo meus descendentes pimpolhos cantarem o hino nacional nas escolas. Sou contra esses nacionalismos ufanistas. Desde que me vi criança/adolescente cantando os hinos pátrios diariamente na escola, achei um tédio.

Fazíamos – eu e mais uns colegas – sacanagens dando tapinhas nas cabeças dos colegas perfilados a nossa frente e zoando acentuando nossas vozes nas palavras que achávamos verdadeiros palavrões como: lábaro, clava, fulguras, fúlgido.

Sei que meus amigos, principalmente os bolsonaristas, me recriminarão por isso. Se cantar hinos pátrios for a métrica ao respeito e ética cidadã, vejam quem eu sou. É verdade que não sou nada exemplar, mas implicar com os brios pátrios, até que não exagerei. 

O ideal seria existir um hino à ética parlamentar, ordenando sinceridade ao país, e sendo cantado em todo início de sessão de forma juramentada.

A falta de civismo, o respeito, ou o desleixo ao país não está na ponta de baixo nas escolas, e sim na ponta de cima no parlamento onde norteiam as bases práticas diretas de sustentação do país.

Aos que por ventura me criticarão, pergunto: você sabe cantar o hino nacional por inteiro? Não? E por isso você se acha menos cidadão? Risível são os que balbuciam falsamente o hino nacional em manifestações oficiais.

No regime militar foi obrigatório, no governo Lula e Bolsonaro foi solicitado, e qualquer que seja o governo não recomendo. Tenho muito respeito pelos que acham importante saber o hino nacional como forma de amor à pátria. 

Nas redes sociais os favoráveis ao canto do hino nacional nas escolas replicam vídeos de crianças em ordem unida cantando e conclamam até a volta das matérias OSPB e Educação Moral e Cívica. Ou seja, com o espírito militarista do presidente e o sentido nacionalista que o ministro da educação quer, fica evidente o desejo de uma quartelada nada disfarçado. 

Há quem ame cantar o hino de seu clube futebolístico com mais paixão do que o hino nacional. E daí? Nem vou comentar sobre filmagens do Grande Irmão. 

Pego emprestado e faço adaptações do saudoso compositor capixaba Sérgio Sampaio e estufo o peito para cantar meu hino: “Eu quero é brotar meu copo na rua/ Gritar, botar pra ferver/ Eu quero é brotar meu copo na rua/ Gingar, pra dar e beber”.

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