O Maravalha

Estávamos no início de 1969, quando um grupo de quarenta rapazes, que se intitularam “solteirões”, decidiu criar uma nova opção na vida noturna de João Pessoa. Aliás, naquela época, eram poucas as alternativas de que dispúnhamos para o lazer à noite. Ficávamos restritos ao Elite Bar, na orla, cujo movimento maior era nos fins de semana, a Churrascaria Bambu e o Bar Luzeirinho, o primeiro na Lagoa e o segundo no bairro de Jaguaribe, onde se reuniam empresários, políticos, artistas, intelectuais, jornalistas e estudantes paraibanos, fazendo a boemia da cidade.

A ideia era oferecer como atração turística e de divertimento, um ambiente que pudesse se destacar como diferente, inovador, moderno. Nasceu o Maravalha Praia Clube, instalado na Avenida Tamandaré, vizinho ao Edifício Cannes, próximo ao Hotel Tambaú, ora em construção. Sua diretoria de fundação era composta por Wills Leal, Heytor Santiago, José Camelo, Gilson Melo e Climério Baía.

A sua inauguração foi um evento concorridíssimo, chamando a atenção, não só da juventude, mas de toda a sociedade da nossa capital, cuja fita simbólica foi cortada pela Miss Paraíba 1969, Ilona Pinheiro. Aberto todos os dias, com uma boate ao som de música eletrônica e luz psicodélica (a grande novidade), durante a noite. Nos finais de tarde, o clima era descontraído, não faltando as improvisadas rodas de violão. Sua decoração interna recebeu a assinatura de Raul Córdula. A diretoria provisória, primando pela oferta de um serviço de qualidade, contratou um barman paulista.

Tornou-se o “point” do lazer pessoense. Começávamos a ganhar ares de cidade avançada, atualizada com o que de mais moderno existia em outras capitais. Levávamos, com orgulho, as pessoas que nos visitavam, para conhecer o Maravalha, e a todos causava excelente impressão.

Foi a partir dele, com certeza, que a noite de nossa capital iniciou um novo tempo. Surgiram naquele ano e na década de setenta, outras casas do gênero, oferecendo alternativas conforme suas preferências. Portanto, o Maravalha despertou João Pessoa para o mundo do entretenimento, da distração, do recreio, graças à ousadia de quarenta jovens empresários, artistas e jornalistas da nossa província.

INTEGRA A SÉRIE DE TEXTOS “INVENTÁRIO DO TEMPO II”, DE RUI LEITÃO.

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