LUIZ CARLOS ALBUQUERQUE
Manoel Estrela tinha negócios em Cajazeiras, Souza e São João do Rio do Peixe, cidades próximas e fraternas – exceto em se tratando de futebol. Ora num jipe, ora num baio de sua predileção, campeava por um e outro lugar, tocando a vida e vendo as novidades, das quais sempre dava conta.
– A luz desembocou em Souza, é uma maravilha! Um sujeito ficou abestalhado olhando a lâmpada num poste, cegou em quinze minutos. É luz, compadre, é luz!
Quando as instalações já estavam pra cá de Marizópolis, ele chegou contando:
– Em São Gonçalo, um bêbado foi mijar num poste, tomou um choque, no dia seguinte encontraram só o montinho de cinza, uma mancha de cuspe e uma ponta de “Astória”.
De outra feita, saiu no jipe, precisou resolver negócio em Pombal, o veículo quebrou, uma aperreação:
– Depois é que eu vi, tinha rede elétrica perto e o magnetismo da eletricidade, quando um polo alternado encontra um contínuo.
O contínuo do Banco do Brasil fitou-o e disse “vai te lascar, fela da puta!”. E retirou-se indignado da roda que se formava frente a “Casas Pernambucanas”.
LUIZ CARLOS ALBUQUERQUE, PSIQUIATRA E ESCRITOR, NO LIVRO ‘NA FORÇA DA LUA’