Civilizações sertanejas

Uma prazerosa aula de História das Civilizações não precisa gastar muitas turbinas orais. Os balões da realidade, à deriva nas explicações do professor, não precisam lutar com a ficção. Pois quando se está aprendendo História, há sempre aquela faísca de dúvida: “Será que aconteceu mesmo?”

Bom, mas o aprendiz não precisa cultivar olheiras e mais olheiras em livros pesadões sobre incas, maias ou astecas para saber sobre povos. Claro, foram civilizações importantes e que nos deixaram uma série de contribuições culturais e religiosas, por exemplo. Mas não precisa percorrer tantas léguas.

O aluno não precisa remoer os segredos do ocultismo para descobrir se a Atlântida está ou não nas profundezas do mar que a nomeia. Ou seria do Pacífico? Há quem diga, do Mediterrâneo.

Não precisa se preocupar em acender a lenha dos miolos para estudar civilizações tão distantes, se temos civilizações pertinho de nós. Professores conservadores queiram me desculpar, mas, a nossa Atlântida é Piranhas Velha que, para os mais ferrenhos, só aparece quando o Boqueirão baixa o seu nível d’água e deixa apontar a torre da igreja. Eu, como gosto de imaginar, sei que uma civilização superinteligente se esconde ali, por entre líquens, lodos e redutos de peixes. O ambientalista Gilvan Meireles vive dizendo que vai ser implantado o “turismo de aventura” e que, dentre as façanhas aventurescas, os mergulhadores visitarão a cidade perdida. Ô, Gilvan, deixe o povo quieto… As criaturas podem estar tão mais evoluídas debaixo da água doce do que nós, os terrestres. (Pode haver, de repente, uma cheia, provocada por reações inteligentes. O que pensar da chuva?)

Habitantes de Piranhas Velha à parte, meu caro leitor, se você quiser saber mais sobre civilizações, não tão perdidas, mas incrivelmente achadas, pode visitar a Quixaba, perto do município de Uiraúna, a pouco mais de 50km daqui. Lá, você vai perceber que existe, realmente, a civilização dos Fernandes, com alguns resquícios dos Pinto e dos Costa. Inegável é o conjunto de traços físicos daquela gente acolhedora: estatura baixa, pele (e epiderme) branco-leitosa com algumas vermelhidões pelo rosto, boca miúda (senão cavada e um tanto entreaberta), olhos arregalados esverdeados e claros.

Os quixabenses são magros, possuem a voz aberta e espaçosa, num tom agudo. Geralmente, usam óculos. O andar é apressado, às vezes olhando atentamente para um dos lados. Eles são fervorosos, intuitivos e gostam de trabalhar na agricultura, mas são suscetíveis às coisas da zona urbana.

Não precisa morrer de estudar romanos, celtas, fenícios ou druidas. O paraíso das civilizações é no sertão. Se um dia você quiser comprovar mais um exemplo de semelhanças concentradas, vá a Monte Horebe. Lá, resiste a civilização dos Dias, com algumas lembranças dos Paletot, dos Guarita, dos Oliveira. As parecenças ganham da Quixaba. Os Dias são imbatíveis nas características do olhar, verde-escuro, estilo meio gato meio boneca de louça. Podemos lembrar, também, da boca: cavada, maxilar inferior saliente e lábios finos, já que o espaço entre nariz pontudo e bigode é grande. O sorriso é largo, unindo-se aos cabelos mesclados: tipo comercial de xampu. Eles gargalham. A civilização Dias é simpática, pele bronzeada, caminhar zigue-zague. A fala é explicativa e vagarosa. Os Dias são urbanos. Gostam de energia elétrica.

Para mim, um atrativo para estudar um povo é a semelhança. Parece fácil. Revistei os arquivos da minha cabeça para encontrar proximidades físicas na região e, não fui muito além: Quixaba e Monte Horebe. Muito mais prático do que saber sobre gauleses, bretões, fariseus, pigmeus. Muito mais prático do que ficar pensando se ETs existem ou são invenção de ufólogos obcecados. Viajei, num tempo real, para dois lugares que não consomem mais do que um dia.

Aqui, em Cajazeiras, ao contrário, não posso constatar tantas semelhanças. Há algumas coincidências aparentes e naturais, mas, nada consistente. Ou será que não observei, muito bem, muitas civilizações, como a dos Rolim, a dos Braga, a dos Guedes, a dos Coelho…?

Sem querer contradizer a crônica, não precisa ganhar o mundo para descobrir povos. Basta olhar em volta. No entanto, o conhecimento, que requer esforço, sinônimo de dedicação ou determinação, necessita de todas as ramificações possíveis. Saber sobre os gregos nunca é demais. E diferenciar um Abreu de um Hebreu.

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