Centenário de nascimento de Leopoldina de Brito Albuquerque (II)

Este é um momento de muitas felicidades para os nove filhos de minha mãe, Leopoldina (in memorian), o inicio das celebrações do centenário de seu nascimento. Poderia ser dez filhos, mas Francisco de Assis Albuquerque, nasceu prematuramente, devido a um acidente de automóvel, quando minha mãe, grávida de sete meses, regressava de Iguatu, Ceará, onde fora participar, com meu pai, do batismo de um filho de um parente de minha mãe. À época a cidade não tinha recursos hospitalares para mantê-lo vivo.

Lembro das lágrimas de minha mãe, quando saí com Francisco de Assis nos braços, para sepultá-lo. Vi minha mãe chorar poucas vezes por tristeza, mas a vi derramar muitas lágrimas de felicidade. Alegre ou triste, suas lembranças, são sempre motivos de muitas e imorredouras saudades.

Quando conclui o Curso Ginasial, no Colégio Padre Rolim, em 1963, sob a direção do Padre Vicente Freitas, numa madrugada do mês de março de 1964, meu pai foi me deixar na Estação Rodoviária Antonio Ferreira, debaixo uma grande chuva, com destino a cidade de João Pessoa, mas saí de casa após ser abraçado, beijado e abençoado por minha mãe, com as “exigências” de sempre: “cuidado na vida e estude muito”.

Pouco meses depois, sem avisar em casa, fui embora para o Recife, onde conclui o Curso Colegial, no Carneiro Leão. Foi desta minha “fuga” para as terras pernambucanas, que consegui levar e abrir os caminhos para sete dos meus irmãos: Lúcia, Neide, Francineide, Socorro, Aparecida, Sales e Arcanjo Filho. Maria da Conceição (Linda) casou-se aos dezessete anos, mas com a chegada da Universidade, em Cajazeiras, concluiu seus estudos e minha mãe, bravamente, como uma “rainha” conquistadora, participou ao lado de seu marido de todas as vitórias de seus filhos.

Não foi nada fácil para minha mãe cuidar de nove filhos, desde o nascimento até a formatura e o casamento, sem nunca perder as rédeas, o comando e leme da embarcação.

Minha mãe não admitia “brigas” entre os filhos e quando não seguiam os seus conselhos, era com um trançado de corda feita com agave, que sempre esteve pendurada no armador de rede da sala, a quem ela recorria para “exigir” obediência e comportamento. Ela ficava guardando na memória a “estripulia” de cada filho e quando fechava o ciclo, era o dia da “pisa”: todas levavam suas bordoadas para ninguém ficar mangando um do outro.

Meu pai era mais pacífico e sorria com as valentias de minha mãe e talvez eu tenha sido o único premiado com uma boa pisa de cipó de salsa, às margens do Rio Piranhas, quando tomava banho na sangria do açude Engenheiro Avidos. A ordem era: está terminantemente proibido tomar banho no rio. Eu desobedeci e só não apanhei mais porque meu tio Napin, irmão de minha mãe, me tomou das mãos de meu pai e fugi em desabalada carreira em busca de casa.     

Mas a grande arma e o sustentáculo de meus pais eram a fé e a oração. Meu pai não era homem de rezar apenas um terço, mas um rosário, que sempre o conduziu no pescoço e minha mãe, sentada na sua rede, debulhava muitas pedras de seu inseparável terço.

Lições, muitas lições todas costuradas pelas cordas dos corações de meus pais e escritas pela belíssima caligrafia de minha mãe.

As celebrações dos cem anos de seu nascimento serão iniciadas neste domingo, dia 16, com uma missa na Capela de São Francisco, no Sítio Cochos, município de Cajazeiras, às dez horas e trinta minutos.

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