Acaso

A série de fatos trágicos ocorridos no Brasil nesse início de 2019 deixou muita gente abismada. Não dava nem tempo de respirar direito.

Já li artigos de jornais pedindo para que este ano seja de imediato substituído por 2020. Este é um número de rombo, como se diz no jogo de pedras cantadas em bingo. É um número fechado, por tanto sem aberturas para tantas tragédias, julgam os otimistas.

Brumadinho, enchentes no Rio de Janeiro, incêndio na concentração de jovens atletas do Flamengo, morte de Ricardo Boeachat, Bibi Ferreira… Cada um mais chocante do que o outro. Bibi Ferreira, 96 anos, é de comover o espírito artístico de cada um.

A sucessão de calamidades foi tanta que, vamos ser sinceros, nosso âmago está com o desespero na ponta da língua para gritar a qualquer momento ao próximo infortúnio: “oh, não, de novo! ” 

Torçamos para que não sejamos nós a próxima vítima. Antes que alguém peça para eu virar a boca para lá, ou bata tóc tóc numa madeira, sabemos que o acaso nos ronda vinte e quatro horas.

Veja só. Um texto aí atrás que escrevi, TÁ TUDO ESCURO, publicado aqui neste espaço, falava eu de um sujeito noiado de braços abertos no meio da pista na madrugada atrapalhando-me dirigir. E falei também que já havia prestado socorro a acidentado. 

Terça-feira da semana passada estava eu dirigindo meu carro aqui em Brasília, no eixo monumental, próximo a Torre de Televisão, por volta das 18:30h, pista movimentadíssima porque era hora do rush, quando surge um rapazola atravessando tranquilamente a avenida de umas seis faixas, cheirando uma sacola (nitidamente era cola), totalmente drogado. Tive que aliviar o acelerador para não o atropelar. Tantos carros nas laterais, mas este ser excluído social estava na minha direção. É, ou não é o acaso? 

No dia seguinte beibinha, digo, Maurinete, minha esposa, liga no fim de expediente para eu ir buscá-la em seu trabalho porque estava indisposta e não queria dirigir seu carro.

Estava chovendo. Fui buscar beibinha. Chegando próximo presencio um atropelamento. Um homem de meia idade, correndo da chuva, não viu o carro que ora passava a seu lado – olhou para o lado oposto – e recebeu um peteleco de raspão da lateral do automóvel e caiu sentado, meu zonzo. O atropelador socorreu o cidadão e eu já tinha descido de meu carro correndo para ajudar o acidentado. Os dois estavam desnorteados. Orientei-os insistentemente para irem ao hospital próximo dali. Entraram no carro e foram.

É, ou não é um acaso? Até dentro de nossas residências o acaso nos ronda. Busque imediatamente um pedaço de madeira: Tóc, tóc, tóc!

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