A violência retórica

Há um esforço enorme para que se consiga estabelecer a pacificação em nosso país, mas existe muita gente que insiste em praticar a violência retórica que marcou o debate político dos últimos quatro anos. Os autores gregos e latinos estudaram a arte de convencer e as técnicas de discussão. É o que chamavam de “retórica”. Na contemporaneidade forças irracionais a usam no sentido de incitar a violência, promover a cizânia, estimular as relações fratricidas. As argumentações discursivas se apresentam na conformidade do auditório ao qual se dirigem, utilizando a linguagem adequada com o objetivo de convencer e persuadir, mesmo sabendo que completamente mentirosa ou ardilosamente distorcida.

A violência retórica propaga seus efeitos nocivos em comunidades fragilizadas, motivando-as a fazer escolhas que contrariam os valores impostos pela razão e pelas verdades, superando limites, fatos e princípios. Desrespeita a doutrina dos “juízos”, das “razões práticas” e desobedece conceitos da ética e do direito.

A avalanche de “fake news”, estrategicamente disseminada nas redes sociais e nas manifestações de líderes políticos, tem o propósito de radicalizar as relações pessoais na sociedade. Os conteúdos cognitivos das mensagens constroem um ambiente que naturaliza os atos de violência, formando uma sociabilidade política negativa, em prejuízo do exercício da cidadania e do projeto democrático. É o “vale tudo” contra a civilidade, fazendo proliferar palavras de baixo calão, ameaças e demonização dos adversários, buscando causar impactos psicológicos capazes de modificar comportamentos, principalmente dos indivíduos que não têm consciência ou disposição de reagir, assim como acontece nas “seitas messiânicas”. A utilização da “retórica do medo” como instrumento de dominação de grupos mais fortes.

Observa-se a tentativa de controle intelectual condicionando o público receptor de suas pregações a viver um mundo de hipócritas aparências. Falsos líderes religiosos que transformam púlpitos em palanques políticos, fazem valer essa retórica que instala sentimentos de ódio e de baixa-estima, que servem como mecanismo desencadeador de processos de violência, forçando os indivíduos a defender facções de ordem político-ideológicas, por medo, e, por conseqüência, assumindo valores não condizentes com a realidade individual ou coletiva.

É preciso reagir contra esse estilo retórico da agressividade, muito comum entre os reacionários e retrógrados, que ainda persiste na sociedade brasileira, trazendo danos à racionalidade e aos hábitos sócio-políticos. Há uma afirmação de Bertrand Roussel que nos leva a refletir sobre tudo isso: “se muitos dos problemas atuais decorrem da racionalidade, não é com menos racionalidade que esses problemas serão solucionados”.

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