Academia Cajazeirense de Artes e Letras

Querido leitor, se possível, leia em voz alta. Alta a ponto de você se ouvir. Isso. Viva. Sua intensidade de voz é única, sua musicalidade poetiza. Viva a letra, a palavra. Viva quem enxerga a poesia. Viva quem enxerga a arte. Viva em todos os parágrafos agora. Sem vírgulas para o viva. Sem ponto-e-vírgula. Sem tramelas e quebra-molas. Viver como verbo transitivo direto e indireto, doce e salgado, muito e pouco. Sangue negro, índio, branco, misturado. Viva à surpreendente tarefa de acontecer. Um viva com exclamação. Um grandioso viva para a Acal, Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Viva à nossa História: aos nossos imortais. Viva a palavra que não morre. Arte é palavra. O contrário também. Podemos escolher. Podemos fazer, refazer, explicar, mastigar. Podemos ponderar, estruturar, compreender. Rimar ou não rimar. Viva. Viva a todos os gêneros literários e todas as expressões artísticas. Um viva vivíssimo à chance de reconhecer tudo isso, aos cinco sentidos, à escola, à educação, aos que ensinam, aos que aprendem. A Acal é a pisada no minuto certo, um doce baião para as cabeças, um grito para a salvação das ideias. Não veio tarde. Veio na hora. Sim. Veio no risco da estrofe, veio no ritmo elegante, veio na sentença das cores. Veio na Gramática Grega de Padre Rolim, mas também no carrinho de Elias do Picolé. Veio em cada repente ornado pelas cordas da viola, mas veio também no arado do agricultor no pé da serra, que faz arte com sua plantação. Viva. Patronos e patronesses em uníssono, mas em individualidade plena. Viva a cada um por si. Viva, da mesma forma, ao conjunto da transformação. Viva ao grupo, ao que é preciso. É preciso. É preciso ver a arte. A Acal veio para criar mecanismos para vermos mais. Produzirmos mais. Sermos mais. Um viva para tudo o que extrapola a racionalidade ligeira e simples. E esse tudo é arte. E esse tudo é palavra em formas diversas. É a defesa de um trabalho de graduação na UFCG, é uma recente descoberta pelos alunos do IFPB, é o cotidiano do abecedário com os primeiros cadernos, é a massa de modelar e o giz de cera. E é também o que não está normatizado. É o tapete de retalhos. É a loiça. É o anúncio do leite de manhãzinha. É um chamamento a tudo isso. É aquele pesponto perfeito do vestido, é aquele doce de jerimum com coco que tem o lado intuitivo, é a fogueira na noite de 23 de junho, é o céu alaranjado do entardecer no Açude Grande. Vixe, Maria. A Acal não dá conta de tudo. É tanta palavra e arte que não cabe num dia. Mas, realmente, nem é só um dia. Nem mesmo. É todo dia. Por isso, viva. E viva. Viva a quem faz do estudo a arte poética. Poesia para o trabalho. Gratidão em letras e números. Tem letra e arte no cheiro da chuva, na terra quente, no lajedo grosso. Tem letra e arte nos centros religiosos, nas bodegas, nas fábricas, nas rádios, nas feiras. Tem letra e arte nas homenagens no clube, mas também no lugar, nos corredores, nas paredes e janelas, nos garçons e porteiros, naquele cachorro-quente do lado de fora, nas muriçocas que trafegam nos horizontes sertanejos. É assim. A Acal nasce e renasce todo dia, no sertão. Viva. Que tilinte a sanfona. Que venham os festivais e as exposições. Que venham os aniversários. Viva.

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