Instituto Peixes da Caatinga realiza pesquisas e defende as espécies que aparecem nas bacias do NE

Existem peixes na Caatinga? Esta é uma pergunta que os biólogos nordestinos recebem com frequência e foi a partir dela que o Instituto Peixes da Caatinga nasceu com o objetivo de demonstrar para a população a existência de peixes nas bacias do Nordeste. Paraibana, a organização atua em defesa da biodiversidade e luta para a conservação dos peixes da Caatinga, realizando denúncias contra crimes ambientais, evidenciando a destruição dos habitats em que vivem espécies ameaçadas de extinção e espalhando conhecimento para a sociedade civil.

Nativo digital, o instituto nasceu como um simples projeto criado durante a pandemia de Covid-19. Antes de ser referência nacional na luta pela conservação dos peixes de água doce, o Peixes da Caatinga era apenas um perfil de Instagram com a intenção de responder a tão constante pergunta sobre a existência de peixes no bioma. O coordenador do projeto, Telton Ramos, conta que, na rede social, a equipe também expôs (e ainda expõe) suas expedições de coleta dos peixes do bioma. “Mostramos nossa luta pela conservação dos peixes, fazendo denúncias contra crimes ambientais, como as introduções de espécies de peixes exóticos na Caatinga, tais quais a Tilápia, o Tucunaré, o Panga; e denúncias mostrando destruição dos ambientes em que vivem espécies de peixes ameaçadas de extinção no bioma”, conta.

Hoje, o projeto cresceu, se expandiu para fora das redes (onde conta com mais de 8,9 mil seguidores) e se tornou oficialmente um instituto com identidade visual e reconhecimento por sua contribuição à preservação da fauna do principal bioma nordestino. Se nas redes a associação tem mostrado a diversidade de peixes de água doce do Nordeste, as espécies ameaçadas de extinção e direcionando as pessoas para ajudarem na conservação dessas espécies, fora delas o trabalho é ainda maior.

Telton, que é doutor em Ciências Biológicas com ênfase em Zoologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), explica que a atuação do Peixes da Caatinga vai além das expedições realizadas com o pequeno grupo de pesquisadores envolvidos no estudo, descrição e monitoramento dos ambientes e espécies de peixes do Nordeste. “Ainda atuamos na educação ambiental em eventos ligados ao meio ambiente, mostrando para o público algumas das espécies de peixes que vivem na Caatinga, assim como conscientizamos as pessoas para conservação desses animais e dos ambientes em que eles vivem, como rios, riachos, lagos, lagoas, poças, etc.”, diz o coordenador do projeto enquanto explica que, muitas vezes, essa parte do trabalho só acontece por causa da contribuição dada pelas populações ribeirinhas que vivem perto destes ambientes.

Ações ambientais no bioma

Com cerca de 10 pesquisadores atuando diretamente no projeto e outros que contribuem para o desenvolvimento, manutenção e fortalecimento do instituto, Telton Ramos se aventura com frequência em expedições caatinga a dentro para entender melhor o funcionamento dos microcosmos aquáticos do bioma. E a doutoranda em Ciências Biológicas pela UFPB, Vitória Lima, é uma das pessoas que o acompanha nesta jornada. Integrante do Peixes da Caatinga desde o fim da graduação, Vitória conta que sua chegada ao projeto coincidiu com a descoberta de seu interesse pela ciência e pesquisa, bem como o entendimento da importância da biologia para a sociedade.

“No doutorado, o Instituto Peixes da Caatinga tem agregado à minha formação em diversos níveis, desde amplificar os alcances da produção científica local e regionalmente, quanto a buscar que essa comunicação se torne cada dia mais simplificada e atinja o maior número possível de pessoas, dentro e fora das universidades e institutos de pesquisa. Socialmente, a importância vai além da educação ambiental”, relata a futura doutora.

A porta de entrada do biólogo Lucca Sorrentino no instituto foi a universidade. “Ao me inscrever no mestrado, tive contato com o professor Telton para que ele fosse meu orientador. A partir daí, comecei a trabalhar com peixes de água doce, da Caatinga. Tive contato com o projeto e a colaborar, primeiramente nas expedições e posteriormente em eventos”, explica.
Para Lucca, o projeto é interessante porque propõe discussões a respeito da necessidade da conservação dos peixes e do bioma como um todo. Segundo ele, a conservação da Caatinga é pouco discutida pela população e os peixes, acabam sendo negligenciados pela sociedade. “O projeto também leva conhecimento sobre produções científicas para um grande público, se utilizando de humor e de uma linguagem acessível a todos. O Peixes da Caatinga é um projeto de grande função social, trazendo a população para discussões fundamentais sobre nosso bioma, exclusivamente brasileiro e extremamente rico”, comenta.

Falta de recursos é obstáculo

Ainda que as expedições realizadas pela equipe do projeto já tenham, atualmente, sua importância reconhecida pela comunidade, o Peixes da Caatinga permanece lutando para existir. É que, sem financiamento, o projeto não conta com quaisquer fontes de recursos. O veículo utilizado para as expedições do grupo, por exemplo, é do próprio coordenador, Telton Ramos. Junto da equipe, ele e siriguela (apelido carinhoso dado à caminhonete L200 que, neste ano, completa 15 anos na ativa), percorrem toda a Caatinga para descobrir novas espécies de peixes e lutar pela conservação desse grupo de animais sem aportes financeiros fixos.

“Sem recursos para financiar nossos esforços, resolvemos montar o Instituto Peixes da Caatinga para formalizar nosso trabalho e assim facilitar a busca de recursos financeiros para nossa luta”, explica o especialista em Zoologia ao contar que, geralmente, as expedições são financiadas pelos seguidores das redes sociais do projeto. Na tentativa de arrecadar fundos para as incursões da equipe, o instituto conta com canais para doações. É o caso das chaves PIX: [email protected] e 8398168-1394.

Duas das expedições realizadas pela equipe tiveram a intenção de coletar duas novas espécies de peixes até então desconhecidas pela ciência. “As espécies foram descobertas através das redes sociais do projeto. Uma espécie do Ceará e uma outra do Rio Grande do Norte. Para essas expedições, foram realizadas vaquinhas nas redes para conseguir recursos destinados à compra de combustível e material para coletar os peixes novos e trazer para serem estudados”, relata Telton.

Diante das dificuldades enfrentadas pela equipe para continuar desbravando a Caatinga, Vitória Lima relembra a importância do Peixes da Caatinga, na esperança de alertar que, além de reconhecimento, é necessário ter, também, meios para existir: “Hoje, o nosso grupo de pesquisa é um dos únicos a tentar entender os impactos da transposição do Rio São Francisco nos peixes do nosso estado, possibilitando que esses resultados possam ser considerados em projetos futuros por todo o mundo”.

COM INFORMAÇÕES DE A UNIÃO

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