Marcélia Cartaxo: “Clarice desperta outras mulheres através de seus sentimentos”

A atriz cajazeirense Marcélia Cartaxo, que representou no cinema uma das principais personagens de Clarice Lispector, estabelece Macabéa, de A Hora da Estrela, como definição do rumo que tomaria a sua carreira. “Foi incrível. Na época, eu fazia teatro e Suzana Amaral estava na plateia, em busca de uma atriz para interpretar a protagonista em seu próximo longa. Ao me ver no palco, ela achou que havia ali uma expressão para o cinema. Que eu tinha movimentos simples e profundos, gestos contidos”, lembra a paraibana sobre o encontro.

Após o espetáculo, a cineasta ficou encantada e foi ao camarim da jovem atriz para conversar. Lá perguntou se Marcélia conhecia a obra de Lispector. Com a resposta negativa, no dia seguinte, Suzana Amaral compareceu novamente com o livro A Hora da Estrela e a proposta para trabalhar na adaptação. “Ela passou a me dirigir através de cartas, pedindo para que eu observasse as Macabéas em Cajazeiras, onde eu morava na época, para que me espelhasse nelas”, recorda.

A Hora da Estrela, o filme, teve sua estreia em 1985, no qual estão retratadas as questões
sociais, preocupação de Clarice Lispector apontada em suas diversas obras. “Macabéa é essa representação do submundo, de mulheres exploradas, sem condições, ganhando pouco, o machismo se sobrepõe nela. Há uma questão muito atual, as Macabéas estão voltando à tona e as questões como os sonhos da mulher acabam ficando em segundo plano. Essa questão social do Brasil está gritante de novo, por estarmos regredindo de forma tão acentuada”, critica Marcélia Cartaxo, que ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz
pelo papel, no Festival de Berlim, na Alemanha.

As Macabéas que permanecem e aumentam em número pelo Brasil afora rendem ainda discussões como questões voltadas à ingenuidade de jovens que acabam sendo exploradas pela sociedade. “Clarice desperta outras mulheres através de seus sentimentos, de sua fala e de sua obra. A Hora da Estrela tem muitas camadas para discutirmos até hoje. E são essas razões que tornam Clarice uma das maiores escritoras”.

COM INFORMAÇÕES DO JORNAL A UNIÃO

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