Violência no Brasil e o eleitor

Violência sempre existiu no Brasil e no mundo, localizada, mas também na explosão de grandes guerras. Não é disso que agora eu falo. Tenho em mente a mais grave manifestação criminal, ramificada mundo afora, organizada e abrangente. Suas características diferem do que existia no passado. Trato da violência que, sendo crônica policial, isolada e por vezes cruel, alcança a esfera do poder. Ali se infiltra usando meios e modos que a história jamais registrou. É dela que hoje me ocupo.

Não me refiro a surtos ocasionais de violência.

Bem sei que a história do Brasil está repleta de situações políticas e sociais apavorantes, como foi o cangaço, que, aliás, tem induzido a um paralelo com a onda recente de truculentos assaltos a bancos, cinematográficas ocupações de pequenas cidades. Enganosa analogia. O banditismo tinha causas sociais específicas numa sociedade de um país rural, em que facínoras, salteadores, cangaceiros buscavam a sobrevivência na afirmação de sua força no território dominado pelos coronéis, em constante disputa entre eles pelo controle do poder local. O cangaceiro tirava partido dessas brigas entre facções partidárias, o coiteiro, o protetor nada mais sendo do que a contraparte nas alianças formadas à sombra do sistema político.    

A aliança atual é bem diferente.

Sofisticou-se, distanciando-se dos rústicos arranjos históricos anteriores, a começar pelo nível de organização do crime, a motivação, as artimanhas usadas para se infiltrar no mundo político. Poderosas organizações criminosas aplicam tecnologias refinadas ao lado de utilizar-se de bem armados matadores profissionais.

Um pouco de história.

A criminalidade atual nasceu e prosperou na desorganizada urbanização, incapaz de absorver as massas rurais expulsas do campo em busca de emprego, atraídas pelo canto de sereia da cidade grande. Forçadas a viver na periferia elas toparam com o consumo de drogas, que se alastrou, gerando disputas mortais pelo controle da produção, circulação, distribuição por facções criminosas em luta para controlar o mercado. Pasme, tudo com ramificações internacionais, dada a natureza mundial desse bilionário mercado ilegal.

Chegou até ao nosso sertão.

Esse complexo de transações marginais, ao movimentar bilhões de dólares, não poderia ficar alheio a duas coisas: religião e política. Isso porque o crime organizado cresceu tanto que alçou à condição de poder paralelo, detendo o mando sobre áreas geográficas de centros urbanos e até de zonas rurais. Que tem o eleitor a ver com isso? Basta olhar a seu redor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share