Eleições 2014: o país dividido

As eleições terminaram e com a vitória de Dilma Roussef, o país, depois dessas eleições, se apresentou como se existissem dois Brasis, um do Centro-Sul, e outro do Norte, e principalmente do Nordeste este vitorioso mas por uma estreita margem, a mais estreita da história de nossa recente (menos de trinta anos) democracia.

Mas pelos próprios resultados, não quer dizer que Dilma não foi votada em São Paulo, nem Aécio não tenha recebido votos dos nordestinos, eles receberam e muito, mas a pequena diferença, que deu margem a vitória petista, foi conseguida na região Nordeste.

Veja bem, antes do primeiro governo Lula, uma viagem pela BR 116 para Fortaleza era uma corrida de obstáculos, mesmo enquanto o Ceará era governado pelo PSDB, hoje esse e outros importantes corredores de mercadorias, recebem manutenção e a entrada de Fortaleza está duplicada.

O Bolsa- Família, também chamado de Bolsa- Esmola, foi uma criação inicialmente eleitoreira do PSDB, que aproveitada e potencializada por Lula, apesar de eu mesmo ser inicialmente contra “Uma esmola para um homem que é são”, como na letra do famoso Luiz Gonzaga, por ruim que fosse, teve um efeito benéfico inquestionável: fez com que a região Nordeste (mais especificamente a gente do interior) atravessasse algumas das maiores secas da história – a de 2013 foi a menor precipitação pluviométrica que eu vivenciei, menos somente em 1932 (choveu uma vez e c’est fini) e a famosa seca de 1877, onde nos dois casos, morreu muita gente de fome. Dessa vez, e também por causa desses programas de distribuição de renda, a malha rodoviária, os excedentes do cerrado, e mais outros fatores, se atravessou esse período que noutros tempos significava uma tragédia, apresentando, pasmem, crescimento econômico regional. Quem vivenciou as décadas de oitenta para trás, e graças a deus as novas gerações não assistiram a repetição dessa tragédia. Em janeiro de 1984, depois de uma grande seca, mas não tão severa como a que estamos vendo, o povo da Zona Rural veio para a cidade e saquearam todos, repito, todos os prédios públicos de nossa cidade. Estes anos, o que se falou foi de mananciais, diminuição de rebanho, morte de coqueiros e bananeiras (plantas que consomem muita água), mas nada de gente faminta, os tristemente famosos “flagelados da seca” não apareceram.

Por essas e outras, é compreensível que os votos dos nordestinos tenham sido dados em sua maioria para quem teve o cuidado de conservar essas políticas, ou seja, o PT de Lula e Dilma. O próprio Aécio disse reiteradas vezes que não iria acabar os programas de redistribuição de renda, mas quem iria acreditar, especialmente, se no passado a Transposição do São Francisco sequer saiu do papel, hoje apesar de não concluído, pelo menos se vê o andamento das obras. Se o PSDB ganhasse, quem garantiria que essas não iriam ser paralisadas? No meu caso pessoal, acredito que como sua votação foi oriunda de São Paulo, pelo menos parte desses recursos seriam realocados para o Sistema Cantareira, por exemplo. O leitor se lembra: no tempo de Fernando Henrique, ficou a Transposição em estudos de impacto ambiental por anos e anos.  Não é que Dilma seja santa, pelo contrário, mas o Nordestino optou majoritariamente pelo menor demônio.

Em termos de política estadual, fizemos da mesma forma, votamos para que não fossem paralisadas as obras do Governo do Estado que estão sendo construídas aqui.

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