Não foi só o Di Cavalcanti

As facadas desferidas criminosamente na obra de arte produzida por Di Cavalcanti que estava exposta no Salão Nobre do Palácio do Planalto, não atingiram apenas a genialidade do autor, preservada com os cuidados de que se preste reverencias à memória cultural de nosso país. O quadro “As Mulatas” (1928), avaliado em R$ 8 milhões, recebeu cinco perfurações por terroristas que se afirmam “patriotas”. A arte brasileira, como um todo, foi atacada, desvalorizada e, irresponsavelmente vandalizada.

Mas não é surpreendente esse comportamento. Afinal de contas o líder maior desses fanáticos, sempre se mostrou, nos quatro anos em que esteve ocupando a presidência da República, alguém que despreza a arte e a cultura. Seus seguidores agem como se fossem orientados pelo exemplo que ele nos ofereceu durante o tempo em que esteve presidindo a nação.

Acharam pouco e danificaram a escultura “O Flautista” de Bruno Jorge, avaliada em R$ 250 mil, bem como destruíram a mesa de trabalho usada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek. Outra escultura de parede feita em madeira por Frans Krajcberg e avaliada em R$ 300 mil também teve o mesmo destino. Relógio de Balthazar Martinot, datado do século XVII presenteado a Dom João VI, também foi alvo do terrorismo dos golpistas. O autor da obra era o relojoeiro oficial do então Rei da França, Luís XIV. Só existiam, no mundo, dois relógios feitos por Martinot: um está no Palácio de Versalhes, na França, e o outro acabou sendo completamente destruído pelos fascistas.

E não ficou só nisso. Na Câmara dos Deputados a escultura de bronze “A Bailarina”, produzida em 1920 por Victor Brecheret, foi roubada. Quebraram o painel “Araguaia”, um vitral de Marianne Peretti datado de 1977. E dos quatro exemplares originais da Constituição Brasileira de 1988, restaram somente dois: um foi destruído no incêndio do Museu Nacional em 2018 e o outro por bolsonaristas no último domingo.

A Estátua da Justiça que fica em frente do Supremo Tribunal Federal foi pichada com a frase: “perdeu Mané”. A cadeira usada pela presidência do STF feita por Jorge Jalszupin foi arrancada do prédio.

É evidente o desprezo que esse pessoal tem pela cultura, a história e as artes. O populismo de direita entende que uma sociedade consciente dos seus valores culturais forma indivíduos críticos, o que não é conveniente para os que pretendem governar na base do autoritarismo. Então, o vandalismo praticado é fruto de uma plataforma política que vinha sendo executada desde 2019. Mas o que esperar de uma gente que acredita que a Terra é plana? O que aconteceu em Brasília no domingo passado é resultado de um projeto alienante adotado pelo retrocesso cultural planejado, que tem interesse em não fazer entender que a cultura é uma questão de sensibilidade e cidadania. Os fascistas odeiam o conceito de cultura e da arte como ferramentas da mudança, da libertação de corações e mentes.

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