Sinval Rolim (2)

Sinval Rolim nasceu no ano de 1921. Dos doze para os treze anos, veio estudar em Cajazeiras, deixando a casa dos pais, passando residir com a tia/madrinha Silvinha, passando a estudar, então, na escola particular do professor Crispim, onde a aprendizagem ainda era imposta à base da palmatória aplicada àqueles que não “se davam bem” nos compromissos com os livros, com os ditados e com os exercícios de caligrafia (<em>cali</em>=bonita+ <em>grafia</em>=escrita).

Um costume da época era cantar-se o Hino Nacional, diariamente, antes do início das atividades, como ainda hoje se faz nos estádios de futebol. Daí, segundo Sinval afirmava, começou a aflorar o seu entusiasmo juvenil e a sua empolgação com as coisas da Pátria idolatrada, sentimento que conduziu quando se matriculou no Colégio Salesiano e fazer o Curso Ginasial. Das sacadas do colégio, ele contemplava o céu azul do sertão, que ativou a sua admiração pelo espaço celeste, coberto de nuvens brancas. Certamente, daí advieram os seus primeiros sonhos em tornar-se piloto de aviação.

No ano de 1936, já aos quinze anos de idade, Sinval vivia a confrontação da vida bucólica da fazenda dos pais com o novo aspecto citadino proporcionado pela visão urbana da nova Avenida Presidente João Pessoa, que lhe proporcionava o deslumbramento do edifício OK, onde se localizava o Excelsior Clube, o Cine Éden, sorveteria, salão de snooker e bilhar… Tudo era novidade, convidativa a voos maiores em busca de outras paragens.

Por esse tempo, passou a residir com os irmãos mais idosos, Acácio e Antônio, que já moravam na cidade, em uma “república”, alugada com a ajuda do pai. Acácio já trabalhava na antiga Casa Ypiranga, de propriedade de Álvaro Marques, naquele suntuoso edifício localizado na então chamada Praça dos Carros, hoje Praça Coração de Jesus.

Já entre os quinze e dezessete anos, Sinval arranjou um trabalho na Prefeitura Municipal de Cajazeiras (gestão do então prefeito Cel. Joaquim Gonçalves de Matos Rolim), passando também , aos sábados, a fazer um “bico” na citada Casa Ypiranga, defendendo uns trocados que ia amealhando já como preâmbulo de suas intenções.

Em 1939, já aos dezessete anos, amadurecendo os seus ideais aeronáuticos, falou aos pais e irmãos que queria atingir voos maiores: queria ir embora para o Rio de Janeiro, onde iria “sentar praça”, procurando incorporar-se ao serviço militar. Comoção geral! Tanto é que os familiares muito tentaram demovê-lo da ideia.

Mas a decisão estava tomada: iria embora custasse o que custasse. Mesmo a contragosto, o pai agraciou-lhe com 480 mil réis (moeda da época) a que ele os somou com 200 mil réis que havia juntado e, com os 680 mil réis, programou-se para ir para o Sul Maravilha.

A fim de que se tenha uma ideia, por aquela época, governo de Getúlio Vargas, com relação ao salário-mínimo, havia quatorze regiões: enquanto na Paraíba o salário era de noventa mil réis, o mais baixo do país; no Rio, o mais alto, era de 240 mil réis. Grande diferença… Mas, mesmo assim, iria se aventurar.

Foi então à feira-livre, que se realizava da Praça Coração de Jesus, comprou uma maleta de madeira, daquelas bem rústicas usadas na época, juntou as poucas peças de roupa de que dispunha e estava pronto para ir embora de casa, deixando o pai preocupado e apreensivo, a mãe chorosa, e os irmãos tristonhos e acabrunhados.

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