Uma revolução cultural em Cajazeiras

LINALDO GUEDES

Cajazeiras sempre exibiu com orgulho o título da terra da cultura. Desta terra abençoada pelo Padre Rolim, surgiram nomes que se tornaram referência nacional em seu mister artístico e literário. Na Literatura, temos Cristiano Cartaxo, Teté Assis, Gerson Carlos, Ivan Bichara, Rosilda Cartaxo, Deusdedit Leitão; na música, Zé do Norte, Eugênio Pacceli, Rivaldo Santana; no teatro Iracles Pires, Geraldo Ludgero, Hildebrando Assis, Lacy Nogueira. Isso sem citar os nomes na área religiosa e de educação e nem os talentos que ainda estão entre nós, fazendo arte e cultura para o Brasil e o mundo.

Esta terra da cultura, no entanto, ficou hibernando durante longos anos, principalmente entre 2012 e 2017. Por descaso do poder público, tudo parecia adormecido em berço esplêndido ou afogado nas águas do Açude Grande. É que a cultura nem sempre é valorizada como se deve. Muitos se esquecem que uma cidade só cria identidade através da valorização de sua cultura, de sua arte e de sua educação. O certo é que nesse período citado acima, Cajazeiras ficou sem ter quase nenhuma atividade artística, a ponto de Saulo Pires (Pepé), imortal da Academia Cajazeirense de Artes e Letras e filho de Íracles Pires, afirmar uma vez que a cidade não merecia mais a pecha de terra da cultura. Afinal, o teatro estava fechado, não havia eventos literários e poucas peças eram montadas.

Esse estado de letargia começou a mudar a partir de 1 de janeiro de 2017, quando assumiu a cadeira de prefeito constitucional da cidade o médico José Aldemir. O gestor cercou-se de pessoas competentes e Cajazeiras começou a vivenciar, em pouco tempo, uma grande revolução cultural, digna de suas tradições. Primeiro com Chagas Amaro à frente da Secretaria Executiva de Cultura e o cumprimento do edital do Fundo Municipal de Cultura (Fuminc) com apoio a 18 projetos de artistas dos mais diversos segmentos. Parece fato corriqueiro, e hoje é. Mas apesar de ser lei, o Fuminc não era cumprido em sua integralidade. Era pago em um ano, e em outro não, sempre abaixo dos 2% exigido pela Lei.

Depois, veio a assunção de Ubiratan di Assis como secretário de Cultura. Referência no teatro paraibano, seja como ator ou diretor, Ubiratan di Assis brilhou na telenovela “Velho Chico”, da Rede Globo, e veio a Cajazeiras disposto a fazer com que a cidade retomasse a tradição de terra da cultura. Para isso, contou com o apoio do prefeito, que, de imediato, transformou a pasta executiva em Secretaria de fato e de direito, com sede e orçamento próprio para gerir a cultura do município.

Logo veio mais um Fuminc, agora apoiando 38 projetos, e a cidade voltou a respirar cultura. Através do Fuminc, foram realizados festivais de cinema, de teatro, de música, de dança, de poesia, além de produções cinematográficas, teatrais, no artesanato e nas artes plásticas. Além do Fuminc, onde a atividade parte do artista com apoio da gestão, a Secult também fez sua parte como gestora. Várias ações podem ser citadas: revitalização do Centro Cultural Zé do Norte, criação do Museu da Cidade, com a valorização do Museu do Esporte, criação da Sanfônica, realização do Arte Agosto, Festival de Marchinha e de Música Junina, eventos em homenagem ao centenário de Ivan Bichara, revitalização da Banda de Música, além da valorização da Fanfarra Rivaldo Santana e do Projeto Cantos que Educam, afora apoio à Paixão de Cristo, com recorde de público, e ao projeto Rota do Sol. Isso sem esquecer do apoio às festas populares, como Carnaval e São João.

Como energia positiva atrai energia positiva, neste mesmo período outros eventos se incorporaram à revolução cultural patrocinada pelo poder público municipal. Um deles pode ser considerado fundamental: a reabertura do Teatro Íracles Pires por parte do governo do estado, possibilitando a realização de grandes espetáculos, alguns de outros estados do Brasil, sempre com casa cheia. Também nesse período foi, enfim, criada a Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), sob a presidência do escritor Francisco Sales Cartaxo (Frassales), um sonho antigo da classe intelectual da cidade, enfim concretizado com posse de 38 imortais em evento histórico realizado no Cajazeiras Tênis Clubes. E teve, ainda, a realização da I Festa Literária da cidade, organizada pela professora Lígia Calado, e a criação da Arribaçã Editora, com lançamentos de vários livros.

Apesar de 2020 ter sido um ano em parte prejudicado pela pandemia em função do Coronavírus, onde todas as atividades foram paralisadas, encontrou-se uma forma de continuar movimentando nossa classe artística. E assim surgiu o Fuminc Especial, beneficiando 100 artistas da cidade com um auxílio emergencial e a realização de lives. Agora, anuncia-se a chegada do Espaço Cultural de Cajazeiras, mais uma ação que promete valorizar a arte cajazeirense. Um espaço ideal para a valorização do que foi feito por nossos artistas pioneiros e com a exposição do que vem sendo feito, por nomes que aqui estão e outros que já voaram para outros recantos do país e do mundo.

LINALDO GUEDES É POETA E JORNALISTA.
AUTOR DE 11 LIVROS, É MEMBRO DA ACAL E EDITOR NA ARRIBAÇÃ EDITORA

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