Teoria do Álcool Consumado

Há o que chamamos de leseira mascarada de inchaço; e tudo o que vier em forma de máscara vai se tornando montanhoso, protuberante. O bebedor, ao ingerir quantidades mínimas (um dedo) de qualquer porção não milagrosa para passarinho, tem, em si mesmo, uma normalidade aceitável; e, para o outro que está perto (o companheiro de mesa), um limite a ser seguido, caso haja acordo.

Se o assunto for conversado (ao mesmo tempo em que alguma isca é mastigada), teremos, então, um percurso verbal entre um estado pequeno de embriaguez e desordem. Se o tira-gosto estiver no estado líquido, o assunto, por exemplo, pode ser política, para que ninguém se engasgue. Mas, nesse mesmo percurso do teor alcoólico, podem-se encontrar subtemas, que tornam a mesa mais atrativa. É aí que a porca torce todas as orelhas da questão. Os conhecidos vão chegando. “Oi, fulano!” ou “Garçom, mais uma copo para beltrano.”

Bom, quando a situação é politiqueira e alcoolizada, no mesmo espaço-tempo de bar, quem passar por perto vai sentir os dois tipos de ameaça: a primeira, o bafo dos partidos que se enroscam numa mesma legenda, em contraposição ao Arrumadinho que espera por uma colherada; a segunda, mas não a última, o bafo de álcool dos bebedores, empolgados e suados. Isso nem é o bastante.

No caso de briga falada, que também pode ser encarada como discussão do ponto de vista descartável, já que ninguém está sóbrio, existem três riscos que se (ar)riscam: risco um, o que navega pelo riso de todos os participantes, leva-se na famosa “esportiva”; risco dois, o sério, que pode começar com o falar alto, bem alto, mais alto, seguido de grito e de uma voz raivosa e já salivante; e o pior, dependendo do dono do estabelecimento, o risco três, que acaba em cadeiras no chão, copos quebrados, narizes sangrando, palavrões voando e visitantes se divertindo. Se o motivo do risco três tiver sido “partido A contra o partido C” ou “Senhor X contra os votos de Senhor Y”, a polícia pode baixar por lá, pois, nesse caso, álcool é ponto de fuga.

Mas existe uma diferença básica que, apesar de básica, foi deixada para o final: a discussão política à bebida fermentada e a discussão política à bebida destilada. No primeiro caso, não é bom citar acontecimentos sigilosos, coisas que estão sob os lençóis; no segundo, não é bom revelar que José da Silva está pensando em mudar de partido ou que Doutor Etc. está em vias aéreas de se candidatar.

Mesmo quando as decisões são tomadas em quaisquer situações destiladas ou fermentadas, o mundo continua pequeno. E Seu Berlamino, por exemplo, continua lá no sitiozinho dele, sem água, sem futuro. Como toda teoria tende à eternidade, cabem aqui algumas reticências … … … E como o álcool tende a … … … E a política também … … … Então … … … Ver bibliografia especializada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share