Marcas do que se foi…

Semana que passou, voltei a Cajazeiras – posso lhes dizer assim – um pouco por profissão, um pouco por devoção: no primeiro caso, com a salutar missão de apresentar o livro “Romualdo Braga Rolim – Cem Anos”; no segundo, para, com saudosa emoção, rever os lugares de minha infância/adolescência. A beleza da festa não me deixou ofuscar da memória lugares onde vivi e por onde passei em dias idos e vividos outrora.

Assim é que, nas horas vagas, deixei que a memória fotográfica e afetiva de minha imaginação me conduzisse por caminhos percorridos noutros tempos e que, ainda hoje, vivem a bailar no meu pensamento, transportando-me para lugares remotos, mas que, com a força do pensamento, se tornam atuais.

E fui, então, à procura desses lugares: o que foi feito da antiga capelinha de Santa Cecília, localizada que era já bem próxima do Cemitério N.S. Aparecida, espaço territorial que o progresso urbano transformou no bairro nobre, cognominado de Oásis, onde pontifica o hotel homônimo? Era por ali que víamos ir e voltar a velha máquina “maria fumaça”, em busca de outras paragens; dessa, somente restou a velha estação, cujas linhas férreas deram lugar ao Fórum Dr. Ferreira.

Andei pela Praça do Espinho, tendo direito a adentrar o velho e vetusto Grêmio Artístico Pedro Américo, em cujo salão principal, fechando os olhos, me senti menino em bancos escolares em busca de aprender a soletrar as primeiras letras e decorar a tabuada, conduzido pelas minhas saudosas professorinhas… Dali, eu contemplei o velho Prédio São Vicente, quase transformado num conglomerado urbano.

Fui mais além, como quem vai para a “rua das mulheres de vida fácil” e parei para contemplar, de um lado, o Grupo Dom Moisés Coelho, uma das primeiras escolas públicas em que lecionei; e do outro, incólume, de pé e majestoso, o velho Cemitério Coração de Maria onde repousam os restos mortais de cajazeirenses imortais. Estava fechado, proibindo-me, num passeio pelas suas alamedas, de parar para ler, em cada lápide mais antiga, histórias de filhos ilustres que forjaram a história de nossa terra. Bem ali, de lado, um pouco de longe, vendo a antiga casa do Professor Antônio de Sousa, fiquei a meditar sobre a influente vida do mestre-escola e escritor de outros tempos.

Mas, o dia e a peregrinação estavam apenas começando. Ainda havia muita coisa a contemplar. Assim é que ainda andei muito e parei diante de ruas e edifícios, alguns modificados pela ação do progresso, mas que ainda deixam transparecer imagens antigas de suas edificações: o Hotel Oriente, ainda quase intacto em sua planificação urbanística; a querida Ação Católica que, embora se me pareça modificada, ainda deixa transparecer a sua estrutura antiga; a casa do Dr. Juca Peba que, apesar das investidas logísticas e comerciais, ainda conserva de pé a sua planificação original, como ocorre, por exemplo, com a antiga sede da Loja Ypiranga, mais conhecida como a loja de Álvaro Marques.

Havia muito ainda o que visitar, porém emoções escondidas nos recônditos de minha imaginação fizeram-me desistir dessa saudosa caminhada que, se por um lado me trazia doces recordações, por outro me fazia pensar o quanto a vida é efêmera e o quanto os dias são passageiros…  Mas, fazer o quê? São as exigências do progresso que nos vão roubando e tentando apagar de nossas memórias os espaços que eram tão nossos e que ainda nos trazem tão doces e tão encantadoras lembranças.

Na ilustração: saudosos e provincianos tempos da Praça do Espinho.

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