Sal a gosto

Metodologia científica deixa muita gente paralisada. Às vezes, o aluno, candidato ou aspirante a cientista, tem uma ideia brilhante, mas não consegue dizer como vai executá-la. Vamos à técnica do arroz refogado associada ao pensamento acadêmico? Aprendi, na UFPB, com meu inesquecível professor William Pinheiro, naturalíssimo de São José de Piranhas. Nessa nossa cozinha literária experimental, farei um quilo de arroz para atender às panças de sete pessoas.

Vamos utilizar arroz branco mesmo. Duas cebolas brancas e grandes, três cabeças de alho, duas xícaras (de café) de óleo, três cenouras médias, sal a gosto, água fervente. Nossa fome será resolvida depois de 50 minutos.

As cabeças de alho devem ser amassadas; as cebolas devem se cortadas em pedaços bem pequenos; as cenouras devem ser picadinhas ou raladas. O arroz deve ser bem lavado, principalmente para tirar grande parte daquele gosto de produto industrializado. Algumas marcas carregam aquela murrinha de gosto de remédio.

É fundamental que a panela seja grande, para que a comida seja movimentada. Esse ritual é importante, meditativo. Colher de pau é melhor: não arranha o fundo da panela e faz menos barulho.

O modo de fazer é simples, mas requer cautela; do contrário, a receita se perde. Vamos à sequência mais tradicional. Início: fritar o alho, até que ele adquira um tom amarronzado. Em seguida, fritar a cebola, até que ela fique quase transparente. Todo esse processo inicial exige concentração: sempre mexendo para não grudar o material. Paciência.

O segundo passo é colocar a cenoura, mexer, mexer, mexer, até que ela incorpore um pouco o sabor do alho e da cebola. Em seguida, o arroz. Sempre mexendo, sempre mexendo. O arroz parboilizado, de certa forma, é mais resistente. O arroz integral exige mais tempo de cozimento.

Quando um leve barulho for ouvido, de algo estralando na panela, é hora de jogar a água fervente, até cobrir os ingredientes e ainda deixar uns dois centímetros acima. Hora também de colocar o sal. Só mais uma mexida. Pronto.

Uma parte que considero extremamente chata é ir, aos poucos, corrigindo o aspecto salgado e provando o arroz para ver se tudo está cozido ou semicozido. Isso interfere na minha vontade de comer. Bom, mas, se a coisa estiver nos conformes, podemos desligar o fogo. A umidade que ainda resta secará com calor da panela. Está pronto o nosso arroz refogado com cenoura.

Veja que o procedimento é um exercício metodológico. É a execução de um projeto que o cozinheiro pensou. Pensou em fazer um tipo de receita, com determinados itens, para atender a um determinado tipo de público. Veja que há um objeto, um problema a ser resolvido ou pelo menos discutido, uma linha de trabalho adotada, o tempo envolvido e o resultado previsto: elementos decisivos.

A revisão bibliográfica é aquela receita da sua tia-avó, lembra? E, se quiser confrontar a receita familiar com outras vertentes, também pode, é saudável. Bom apetite.

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