Rastro de Edme Tavares

Presto mais um depoimento acerca da trajetória de Edme Tavares. Antes, porém, devo ressaltar sua condição de um dos mais importantes políticos cajazeirenses da segunda metade do século XX, não só pelos vinte anos de mandatos eletivos, mas também pela conquista de melhorias para seus conterrâneos. E, sobretudo, por ter deixado um marco eterno: a Escola Técnica Federal, a segunda a instalar-se na Paraíba.

Quando Ivan Bichara Sobreira assumiu o governo da Paraíba, em 1975, no tempo da Arena e do MDB, partidos criados para dar aparência de democracia à ditadura, Edme Tavares e Bosco Barreto eram os dois deputados estaduais de Cajazeiras. Como secretário estadual de Planejamento e Coordenação, cabia a mim, em total sintonia com o governador, procurar fazer o máximo por Cajazeiras, mas sem provocar ciúmes. Eu trabalhava no governo sem nenhuma intenção de envolver-me na política cajazeirense, tudo combinação com Ivan, que de vez em quando enfrentava problemas miúdos derivados de tricas e futricas entre os chefes da Arena na época, Chico Rolim e Epitácio Leite.

Aliás, o acerto com Ivan foi mais longe. Eu sequer transferi meu domicílio eleitoral do Ceará para a Paraíba! E obviamente não me filiei à Arena. Apesar disso, fui surpreendido certo dia com manchete de um jornal de João Pessoa mais ou menos assim: Cartaxo será candidato nas próximas eleições. Fiquei possesso. Quem plantou tal notícia? Identifiquei a fonte com facilidade: Edme Tavares. Tivemos então uma conversa nada amistosa na qual ele ouviu mais do que falou. E escutou palavras duras, fortes e firmes. O tempo se encarregou de sarar o arranhão. Tanto que poucos anos depois, Edme participou de articulações para me fazer “candidato de pacificação” a prefeito de Cajazeiras, num movimento proposto pelo empresário Clóvis Rolim. A “pacificação” morreu no nascedouro, como expliquei em artigo no Gazeta do Alto Piranhas, de agosto de 2004.

Em 2008, Edme e eu tivemos algumas conversas amistosas acerca da eleição municipal. Ele interessado em meter uma cunha na polarização eleitoral entre Carlos Antônio e Vituriano, e eu acreditando no discurso renovador da política de Cajazeiras do médico Léo Abreu. Chegamos a aventar a possibilidade de Edme ser candidato a vice-prefeito em nome de uma causa que, naquele momento, começava a empolgar parte da população cajazeirense. Em longo telefonema, ele em Brasília e eu no Recife, Edme revelou fatos subalternos da política cajazeirense e me deu proveitosa lição de pragmatismo. Estava coberto de razão. A “renovação” era falsa, enganosa, eleitoreira. Mais tarde, a inusitada renúncia do prefeito Léo Abreu, após eleger seu pai deputado estadual, confirmou tudo aquilo que o sobrinho de Angelina Tavares me falara em correta avaliação da conjuntura política de Cajazeiras.

Quase sempre, estivemos, Edme e eu, em lados opostos no campo ideológico, político e partidário. Isso, contudo, não me inibe de reconhecer suas qualidades. A vitoriosa luta em favor da educação, por exemplo, faz com que Edme se enquadre naquilo que o escritor russo Anton Tchékhov anotou há mais de século: “Seria bom se cada um de nós deixasse neste mundo uma escola, um poço ou alguma coisa do gênero, para que a vida não passasse e não desaparecesse na eternidade sem deixar rastro”. O rastro mais significativo do filho de Aquino Albuquerque leva ao Instituto Federal da Paraíba, campus de Cajazeiras.

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