Oh! 

Escrever, remédio de tantos males. Oh, como a vida não presta. Oh, romper da aurora. Escrever, memória à toa, vendaval. Não, nem que o mundo caia. Sim, vou morrer de alegria, de choro às avessas, de riso escancarado. Vou me rasgar em lágrimas. Socorro! O meu pranto é de papel. “Eu te amo” entraria nesta balada? Não. Não ao abandono, não às rugas precoces. Esse esgoto de idéias é mesmo um chinelo mal amado, que noites e mais noites de frio serviu de calçado para um lindo e pobre doidivanas chamado Tamara Souto. Tamara, a tua cara não nega. Oh, Deus, por que somos tão inocentes? Oh, meu cílio que agora se descoloriu, após uma seção de lamentos. Quanto rímel para pouco pêlo! Escrever, o mundo é moinho, dentro de Cartola, um mágico dos morros do samba. Mas essa sanfona também castiga, sem matar a saudade. Escrever é vício que treme, que move montanhas. Apague o cigarro de uma vez e bote a mão na cinturinha. Oh, as rajadas de vento. Oh, tantos e tantos punhais cravados. Escrever é ferrugem. Beber para esquecer. Como eu… Oh, como eu me comprimo. Eu sou ácido também, muitas e muitas vezes. Oh, meu sangue ferve em raios plurais de significados, de parafinas, de confetes e serpentinas. O barco vai e vem. E o Carnaval passou. O Carnaval passou. Eu sei, eu sei. Escrever é aquela velha máscara negra do Carnaval que passou. Mas há um Carnaval que vai chegar com as luzes de uma ribalta qualquer. O sentimento se esvai em cinzas. Mas, espere, é cedo: não precisamos ficar lamentando o passado. As flores murcham depois do orvalho. Não se vá. Oh, como o céu está nublado e triste. Escrever é a anti-origem e, ao mesmo tempo, o começo das horas de agonia. Como eu gosto dessa coisa que me arranha por entre os dentes, por entre os meus micróbios unhares, por entre as minhas acnes mal curadas. Oh, escrever é sina. Socorro! Mil vezes não. Meu coração por tigela de amêndoas, sementes transformadas em óleo corporal, alvos da indústria de cosméticos. Como é cruel esse ofício de vira-lata, dentro de uma lata de sardinha. Como é gostoso ser brega com a consciência limpa e com a cara suja do monóxido de carbono do dia a dia. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

O meu Atlético

Quinta-feira, 21 de julho, o meu Atlético Cajazeirense de Desportos completou 74 anos desde a sua fundação. Como…
CLIQUE E LEIA

O voo do canário

Gosto muito dos versos iniciais da música Terra Plana, do Geraldo Vandré. Versos que ele recita de forma…
Total
0
Share