O respeito a “pontos de vista” divergentes

Temos todos nós uma tendência muito forte a não querer compreender os discordantes como parceiros positivos em uma conversação. E assim recusamos a possibilidade de rever nossos conceitos, na frágil convicção de que os “pontos de vista” que defendemos sobre determinado assunto representam a verdade absoluta.

As opiniões são frutos da interpretação do que vivenciamos. Elas se afirmam na conformidade dos nossos interesses e propósitos. E, por isso mesmo, somos levados a imaginar que só nossa visão do mundo é a correta. Ficamos insistentemente incapacitados de apreciar as diferenças. Então assumimos uma postura de arrogância, intolerância, empáfia. Procuramos impor nosso “ponto de vista” como algo incontestável, a verdade absoluta.

A verdade é plural, múltipla. Não existe verdade única, a não ser aquelas definidas como “dogmas de fé”. Então tudo o que exija compreensão, avaliação, entendimento, pode receber diferentes formas de juízo de valor, são mutáveis. O que percebemos como verdade hoje, pode ser alterado conceitualmente amanhã, a partir da análise de ideias divergentes e o uso da racionalidade.

O inevitável conflito nas diferenças de “pontos de vista”, deve ser encarado como oportunidade de reflexão, nunca como ameaça ao nosso pensamento, quando nos comportamos como “donos da verdade”. É preciso exercitar a humildade, despir-se da jactância tão comum nas pessoas que querem fazer prevalecer, a qualquer custo, as suas opiniões. Acolher pacificamente a diversidade que há no mundo.

Todavia, nunca deveremos ter receio de expor nossos “pontos de vista”. É necessário que se faça com apresentação de argumentos presumivelmente convincentes. O que não quer dizer que desrespeitemos as opiniões alheias e nos neguemos a escutar as razões que diferenciam das nossas.

A lucidez dos discernimentos e escolhas se obtém através da capacidade de dialogar, na convivência com interlocutores críticos. Quando se manifesta a incompetência para aceitar os “pontos de vista” diferentes, se abre ensejo para sofrer consequências desagradáveis no modo de viver. A vida social ou familiar exige a busca da racionalidade, evitando o radicalismo.

O Papa Francisco faz uma recomendação importante quanto a isso: “É preciso investir todas as forças no diálogo para reconstruções, respeito a legalidades e encontro das indispensáveis saídas, evitando descompassos que comprometam a civilidade, a ordem e a justiça. Acima de tudo, os segmentos diversos da sociedade, para superar mediocridades, partidarismos, radicalismos de todo tipo, fecundando nova cultura, precisam estar em diálogo pelo bem comum”.

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