O PIB enxergou a catástrofe

O “mundo do dinheiro”, a elite empresarial, tem sido o ponto de sustentação do governo Bolsonaro desde o seu início. Tanto que o presidente coloca a salvação da economia como prioridade mesmo que ao custo de perda de milhares de vidas humanas. Ocorre que o discurso não tem encontrado correspondência com a realidade. Após um ano de pandemia, com o Brasil alcançando o trágico número de mais de trezentas mil mortes vitimadas pelo Covid-19 e o sistema de saúde entrando em colapso, o “mercado” percebeu que a ausência de ações efetivas do governo no combate à doença, vem provocando um tombo agigantado da economia.

Foi despertado para o caos que vem se instalando, trazendo preocupações para o desempenho econômico nacional. Em carta dirigida ao presidente no final da semana passada, empresários, banqueiros, investidores e economistas, registraram fortes críticas à atuação do governo na pandemia. Alguns dizem que esse alerta chega tardiamente. Eu diria que “melhor tarde do que nunca”. Contrariando o pensamento do chefe da nação, defendem o distanciamento social, o uso das máscaras e a obediência às normas recomendadas pela ciência e a medicina, como essenciais para o enfrentamento dessa terrível crise sanitária que tanto tem assombrado a todos nós.

Os signatários desse importante documento chegam, inclusive, a desaprovar o “falso dilema entre salvar vidas e garantir sustento da população vulnerável”. Estão convencidos de que “não há mais tempo para debates estéreis” e cobram iniciativas que possam efetivamente promover a reversão da situação sem precedentes que estamos vivendo. Eles afirmam, com todas as letras, que o momento econômico e social brasileiro é desolador. É uma carta dura. Demonstra, claramente, que o mercado acordou para a realidade nua e crua.

Exigem que se ofereça atenção especial para a realização de um plano de vacinação em massa, não aceitando as desculpas, até então postas oficialmente, para que estejamos tão atrasados nessa ação que se apresenta como a mais eficaz para vencermos a pandemia. Combatem energicamente a postura de desdém à ciência adotada por importantes lideranças políticas. Criticam o combate permanente que se estabelece aos governadores e prefeitos que têm, num esforço extraordinário, sido obrigados a determinar medidas drásticas como alternativas possíveis na tentativa de amenizar os efeitos danosos da doença. Indicam a necessidade da unidade nacional, em todas as esferas governamentais, para que, de forma harmônica, sejam definidos programas de amparo sócio-econômico.

“O quadro atual ainda poderá deteriorar-se muito se não houver esforços efetivos de coordenação nacional no apoio a governadores e prefeitos para limitação de mobilidade” é o que colocam textualmente na Carta. Entendem que “não se pode esperar a recuperação da atividade econômica em uma epidemia descontrolada”. As vozes do mercado se manifestam como um alerta ao governo. Declaram explicitamente que já não dá mais para apoiar a negligência e a sabotagem às políticas sanitárias por parte da administração federal. São críticas fortes que não podem ser atribuídas a conspirações da esquerda ou de setores da imprensa.

Alguém pode dizer que essa carta não chegou a tempo de evitar trezentas mil mortes. Não deixa de ser uma verdade. Porém ela nos oferece um certo alento, na esperança de que, sob pressão de quem sempre avalizou o seu governo, o presidente redirecione seu discurso e suas ações, libertando-se do negacionismo que tem contribuído para a situação dramática que estamos vivenciando. Apesar de não acreditar muito em mudanças de comportamento, por conta do seu temperamento, compreendo que o documento terá grande influência no jogo político nacional da atualidade. Afinal de contas, são os aliados de origem advertindo o governo para a catástrofe iminente.

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