O mais nobre valor de Cajazeiras está sendo destruído

“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.”

No célebre poema “Os Lusíadas”, Camões narra a viagem em que Vasco da Gama descobre o caminho marítimo para as Índias. Na terceira estrofe, os versos inflamados “Cesse tudo que a Musa antiga canta/ Que outro valor mais alto se alevanta” referem-se à superioridade dos feitos portugueses sobre todos os outros cantados na Antiguidade e significam que tudo que foi escrito antes deveria ser esquecido.

Cajazeiras e seus filhos foram atingidos por um fato inesperado, uma surpresa sem precedentes, que põe por terra séculos de história, que destrói uma narrativa forte que celebra a importância de nosso berço querido, numa  tentativa de destruir a simbologia de  nossas conquistas e tradições.

Quantas vezes, no decorrer da vida efervescente, somos atingidos por algum fato inesperado, uma surpresa sem precedentes ou de um fato que abala nossa estrutura!

Mas qual o “valor maior que se alevanta?” A história, como Mestra da Vida, nos ensinou que Cajazeiras foi a “cidade que ensinou a Paraíba a ler”, mas que de repente, em um Portal da cidade, foi tudo por terra e passou a ser a “Cidade da Cultura”. Uma verdadeira catástrofe e uma insânia acompanhada de uma imensa tristeza. Dói n´alma ver toda uma narrativa ser posta por terra.

Alcides Carneiro nunca foi tão feliz em sua vida no dia em que usou da tribuna, com seu eloqüente discurso, em meio ao povo bradar: “Cajazeiras, cidade que ensinou a ler”, frase que tem gerado inúmeros artigos, trabalhos de conclusão de curso e tese de mestrado. Não existe nada mais significativo e representativo para nós cajazeirenses do que esta frase de Alcides Carneiro.

E o mais importante em tudo isto é que temos sobradas razões de andar propagando-a pelo mundo afora. Poderia ilustrar com inúmeros exemplos porque Alcides assim se expressou com relação a nossa cidade. Nós que poderíamos ter um museu dedicado somente aos fatos ligados a esta narrativa, agora nos aparece na entrada da cidade como terra da cultura. Cultura de que, pelo amor de Deus? Como vamos justificar esta triste mudança?

Prefeito José Aldemir, de quem já ouvi inúmeras vezes, a frase de que sua cidade ensinou a Paraíba a ler, antes do término de seu mandato, ainda dá tempo de corrigir este grave erro histórico, com relação ao nosso amado torrão natal e se transforme em Camões e brade: “cesse tudo que a antiga musa canta e que outro valor mais alto se alevanta” e mande destruir, sim destruir essa invenção de “terra da cultura” e erga um imenso e enorme portal, para nossa glória, que “Cajazeiras foi a cidade que ensinou a Paraíba a ler”. Pelo amor de todos que amam esta cidade transcenda os umbrais do cume, sem orgulho, com amor próprio, empregando as armas da humildade e da lealdade e não vire suas costas para a bela história desta cidade, então, mande retornar ao seu leito o que existe de mais fiel para traduzir a história deste povo sertanejo, que nasceu em torno do ensino e que ele continua sendo a pujança e a grandeza desta cidade que nasceu para brilhar e ensinar. A História é a mestra da vida.

2 comentários
  1. Cajazeirenses ilustres como meio tio Hildebrando Leal, que foi assessor de Alceu Amoroso Lima, fez ressoar nas altas rodas literárias o grande feito de que Cajazeiras foi a cidade que ensinou a Paraiba a ler. Quando estudante de Letras na UFPB, Campus V, aprendi para a vida toda esse grandioso feito de Cajazeiras.

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