Jeová Vieira Brasil – um resgate

Por ocasião da entrega do Título de Cidadão Cajazeirense ao Deputado Jeová Vieira Campos. Obviamente justa porém tardia, já que esses títulos deveriam e devem ser concedidos a pessoas que aqui residem e criaram suas famílias, e para alguém que efetivamente tenha trazido ou produzido algo extraordinário em prol de nossa terra. Num passado não tão distante, eram tantos os títulos de concidadãos, que eu sugeri que se botasse uma agência da Câmara dos vereadores, nas entradas da cidade e perguntassem aos motoristas se iam entrar, caso positivo, já entrava o visitante com o título outorgado, o que graçãs a Deus, perece que mudou.

Agora não era isso o que me motivou a escrever essas mal traçada linhas, é que Jeová mandou confeccionar e pendurar na parede da Câmara municipal, um pôster de seu avô materno, Jeová Vieira Brasil, figura representativa de uma profissão que há pouco tempo era uma das mais importantes ricas e interessantes na região, e que nossa história certamente está deixando num incompreensível desprezo.

Conheci Jeová (o deputado era há bem pouco chamado pela família de Jeová Neto), como um dos mais atuantes corretores de algodão em rama que mantinham negócios com a algodoeira Galdino Pires, ele e outros que cito agora, pelos nomes que conhecíamos Massau (Manoel Carolino de Sousa) Marcelo, seu irmão (Sítio Almas e Divinópolis), Roque Martins Moreira (Cipó), Pedro Afonso e Lira Braga do Gravatá, Feitosa de Cachoeira dos Índios, José Cordulino de Souza, Cornélio de Abreu, José de Sousa, este de Antenor Navarro, todos estes, e cito Jeová como paradigma, pessoas com uma extraordinária capacidade de trabalho, ele e outros tinha que juntar o algodão, às vezes ajudar no ensacamento, carregar e trazer para as usinas, e ainda fazer a intermediação do produtor com a indústria, depois do bicudo e principalmente do agronegócio, esse mundo hoje não existe mais; na Paraíba haviam mais de 50 algodoeiras, se hoje existe alguma, é peça de museu. Mas criou toda uma cultura, da qual eu e tantos outros, somos frutos.

Sobre Jeová Brasil, num caso que posso contar, foi que quando bem mais novo, eu tinha uma vacaria de leite no Gadelha, e na falta de capim, comprei uma partida de uma capineira de vazante no Bom Jesus (vazante de Boqueirão). Acordei às três da manhã, peguei os peões na fazenda, cortamos e carregamos minha camionete de capim, para dar ao gado. Então cruzamos nesse trajeto por duas vezes com a caminhonete vermelha e inconfundível de Jeová Brasil. Quando da segunda vez, já amanhecendo o dia, nos emparelhamos para dar passagem (a estrada de então só dava passagem para um veículo), e nessa ocasião ele fez o seguinte comentário: “Parece que o doutorzinho gosta de trabalhar”. Ele já vinha de volta depois de deixar a primeira carga de algodão na usina, deveria ter acordado meia noite, isso durante a safra, todos os dias…

Esses cidadãos e tantos outros que omito por falta de espaço, poderiam ser considerados verdadeiros heróis, além de serem as figuras que movimentavam e economia da distante Zona Rural, e desempenhavam durante todo o século XX, embora ninguém soubesse o que era isso naquele tempo, um importante papel social. Todos nós que vivemos aqui há mais tempo, estivemos de alguma forma envolvidos com o ruralismo (somos os beradeiros informatizados). Não por acaso, um de seus descendentes teve a oportuna idéia de homenagear seu avô, homenagem que deve ser entendida aos demais corretores de algodão em rama, que desempenharam esse papel de integrar a Zona Rural à cidade.

Parabéns Jeová, sem desmerecimento, mas o velho seu avô era que era “o cara”…

Fica minha homenagem a ele e tantos outros, que trabalhavam, e muuuito.  E eram companheiros de mesa agradabilíssimos, os que gostavam da marvada.

Nossa história passa por esses senhores, mas infelizmente, a exceção de Jeová Neto, bem poucos recordam deles e se seus feitos; em trinta anos não saberemos nem que existiram. Precisam serem resgatados. Todos eles merecem.

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