O livro de Monsenhor Gervásio: uma análise superficial

Estou lendo e me deliciando o livro que enfoca a vida do nosso venerável (e bota venerável nisso), Mons. Grevásio Fernandes Queiroga. Ainda não cheguei a metade desse livro, que tem a deficiência grave de não ter sido escrito pelo biografado, mas por (até agora) respostas do nosso querido e polêmico clérigo que eu, como muita gente nessa cidade, tem respeito e admiração por essa figura ímpar que nós temos o prazer de conviver com ele.

Mas vamos parar com os elogios claramente merecidos do “memorialista” – o sub título é: memórias de Pe. Gervásio Fernandes de Queiroga, e de toda a sua história de vida, (nascimento, vocação, viagens a Roma e outras paragens europeias ou não), sem dúvida da maior importância, mas que meus parcos leitores terão de adquirir o livro para beber dessa fonte indireta mas fidedigna, de uma pessoa que conheceu papas e santos.

Gostaria de explorar a convivência com duas outras figuras de minha admiração, Do Zacarias e Dom Hélder Câmara, que também, mais muito menos já tive o prazer de conversar com ambos, mas em muito menor proporção, e fazer uma análise de seu tempo, que foi entre as décadas de 60 e 70, em que cada um em sua diocese, e com suas ideias, aparentemente antagônicas, mas igualmente alinhadas com as da Igreja Católica de seu tempo, mas nem Dom Zacarias, descendente, como eu o sou de pequenos proprietários rurais, da linha conservadora, deixou de defender seus clérigos dos excessos da Ditadura, nem Dom Hélder, que era chamado e nem de “Bispo Vermelho”, era comunista.  O próprio Gervásio, que eu achava alinhado com as esquerdas”, termo mais que superado, que hoje perdeu o sentido original, era alinhado com os ateus de Moscou. Fiquei impressionado com um comentário de minha mãe – essa mulher que sempre está presente; me relatou um comentário de Pe. Gervásio de que o prefeito eleito de Nazaré  (a cidade da Sagrada Família) era do Partido Comunista, e esse mesmo Partido na Itália, estava se aproximando de subir ao poder na Itália.

Ter esse tipo de preocupação, contrariava a nossa posição, que hoje pode ser considerada preconceituosa quanto ao nosso Padre Gervásio. Então, eu fui mudando meus conceitos, até chegar à conclusão de que não se poderia rotular como qualquer tipo de definição em uma palavra ou mesmo uma frase, uma personalidade complexa como Padre Gervásio.

Isso e outras coisas mais, especialmente no tempo em que ele era o vigário da Catedral, e residia na Casa paroquial, a gente o visitava, e discutia longamente sobre livros, visto que nosso biografado também é um bibliófilo, como eu o sou.

Para encerrar essas mal traçada linhas, (e sabendo que ele as lê), vou encerrar com algumas declarações de Mons. Gervásio, que bem atestam sua mente privilegiada.

Primeiro, quando eu fiz um trabalho sobre minha mãe, a hoje quase mitológica “Ica”, minha patronesse na ACAL, numa conversa de meio de rua, disse: “seu pai, Dr. Waldemar Pires, embora menos festejado; como médico, fez um trabalho mais importante que o da sua mãe” o que em certa parte contraria a fama muito maior que minha mãe desfruta, a mulher símbolo de Cajazeiras.

Quando Dr. Abdiel pediu para eu escrever sobre mina avó, D. Cartuxinha, que era pródiga em dar esmolas, num encontro a dois, Mons. Grervásio falou ‘na bucha’: Finalmente o neto reconhece o trabalho da avó.

No caso da bomba colocada no cine Apolo 11, eu perguntando-o porque na única entrevista sobre o caso, o indiscutível destinatário da bomba, o Bispo Dom Zacarias, disse o seguinte: a bomba foi colocada por pessoas ligadas à esquerda, eu sei quem foi, não vou dizer quem foi e essa é a última vez que falo sobre isso. É o maior mistério de nossa cidade, e o que disse saber quem era, nos omitiu essa informação essencial.

Mons. Gervásio esclareceu: Ele deve ter ouvido em confissão, e o segredo da confissão, tem que ser levado ao túmulo.

Não saberemos o autor, mas pelo menos sabemos as circunstâncias. Se Dom Zacarias fosse o reacionário que dizem, teria denunciado esse crime.

Fica o reconhecimento desse escrevinhador ao grande e íntegro homem que é Mons. Gervásio Fernandes Queiroga.

Leiam o livro, até agora está muito bom de ler, e muitíssimo esclarecedor um documento importante sobre nosso tempo recente.

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