O fundamentalismo religioso na política

O fundamentalismo religioso está surgindo como uma ameaça à democracia. Acentua-se um movimento de intolerância, movido pelo ódio a quem pensa de forma contrária. São formadas bolhas conservadoras com a pretensão de se afirmarem “maioria moral”, fazendo uma leitura seletiva da Bíblia com interesses políticos. Propagam discursos racistas e contra os direitos humanos.

Resisto em atribuir esse avanço fundamentalista aos evangélicos de uma forma geral. Não gosto de colocar evangélico como sinônimo de fundamentalista. Nem todo aquele que professa a religião protestante, utiliza suas concepções de fé com interesses políticos. Creio que a maioria não se permite ser alvo dessa estratégica “captura cognitiva”, perpetrada por líderes religiosos que militam na política partidária e que se dedicam a interferir nos processos eleitorais, através da manipulação de seus fiéis e disseminação de “fake news”.

No fundamentalismo político-religioso o inimigo é sempre o “outro”. A propagação de uma visão do mundo com matriz religiosa, adotando posturas reacionárias às mudanças sociais. É um fenômeno social que ultrapassa a dimensão religiosa. Lógicas autoritárias de exercício do poder político são, então, mais facilmente impostas, concorrendo para o enfraquecimento da democracia. O inimigo é sempre aquele que se coloca em posição contrária.

Com a eleição do atual presidente da república os fundamentalistas religiosos ganharam espaços e cargos significativos no governo. Jamais, na história política de nosso país, exerceram tanto protagonismo na esfera política quanto na atualidade. Firmaram aliança com o poder. O fundamentalismo vem se tornando parte das políticas de Estado no seu governo.

Os fundamentalistas religiosos estão presentes na ambiência governamental, cujos comportamentos têm se evidenciado como beligerantes e preconceituosos. Tome-se como exemplo a recente fala da primeira dama, quando afirmou que o Palácio do Planalto estava antes consagrado ao demônio e hoje tem o representante de Cristo sentado na cadeira presidencial. Achou pouco e compartilhou nas suas redes sociais um vídeo que tem imagens editadas do ex-presidente Lula num encontro com lideranças religiosas de matriz africana, fazendo associação dessa prática religiosa às trevas, em flagrante e explícito desrespeito ao preceito constitucional da laicidade.

Os fundamentalistas promovem o desequilíbrio das religiões cristãs. Enquanto o Evangelho prega o amor e a paz, eles disseminam valores de ódio e violência. Atuam de acordo com a igreja que frequentam e o pastor a que seguem. Nem todos os evangélicos caminham na mesma direção. O cristão com inclinação evangélica já notou que tem algo de muito podre no seio do fundamentalismo.

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