Cheiro da terra

Chegou ao Sertão árido o período das chuvas. No interior do Nordeste só existem duas “estações”: seca e inverno. Mesmo com as poucas e variadas chuvas caídas, os nossos campos estão cobertos de verde. Os juazeiros perderam a sua hegemonia, para se agrupar às grandes aroeiras com suas flores brancas ou amarelo-erverdeadas, aos paus d`arcos colorindo com suas flores amarelas ou roxas, as pitombeiras com suas perfumadas flores,  as cajazeiras, as marizeiras e os angicos, que neste período disputam em beleza com os juazeiros.   

Os pássaros pousando nos galhos das árvores irradiam com o seu canto sinfonias que traduzem alegrias. As joanas-de-barro que fizeram as suas casas com  portas viradas para o poente, já prenunciam um bom inverno. Os caborés não param de cantar. As sabiás vão ter pimentas em abundância para seus banquetes.

Os pássaros que costumam fazer seus ninhos às margens dos riachos, este ano construíram seus abrigos bem acima das ribanceiras. Os cupins construíram as suas habitações em cima das árvores. São sinais e prenúncios de um bom inverno.

Este ano, o som louco das águas, que descem das serras e montes e alertam os preás, os pebas, os tatus e o tejus, que funcionam como se fossem sirenas do corpo de bombeiro anunciando perigo próximo, ainda não aconteceu. Mas estamos na esperança que o El Nino não nos prive destas grandes chuvas.

Este ano no município de Cajazeiras ainda não deu aquela chuva de “sapo pedir canoa”. A maior delas não ultrapassou os 45 mm e o velho Açude Grande aguarda as volumosas chuvas para que possa diminuir um pouco as suas poluídas águas, já que grande parte dos serviços de esgotamento das casas do seu entorno caem dentro dele. O velho açude está pedindo socorro. O projeto de revitalização continua dormindo em alguma gaveta de um órgão público entre Cajazeiras/João Pessoa/Brasília.

As chuvas são as lembranças e recordações mais fortes do meu tempo de menino. Gostava e ainda gosto muito de sentir o cheiro da terra quando caem as primeiras chuvas no chão seco e tórrido do sertão. Que aroma delicioso. Ele vai até as entranhas. As mães de família não deixam os seus filhos levaram os primeiros pingos de chuva porque “é gripe com certeza”.

Todo sertanejo quando vê chuva fica meio abilolado. Olhar o nascente para ver se tem “carregação”, observar as serras para ver se estão “cachimbando” e a noite ficar com os olhos pregados no céu para ver se está relampejando são os melhores atrativos dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

Está chovendo lá? Como estão as plantações? Já está dando lagarta no milho? O açude já está sangrando? O riacho já “botou” alguma enchente? Já tem pasto para o gado? Tem arranjado trabalhador para limpar a roça? Estas e outras inúmeras perguntas é o que predominam nas conversas de meio de feira e nas esquinas da cidade. É uma alegria só. Pode não ter nada para comer em casa, mas o homem do sertão vendo chuva é uma felicidade só. Chuva sempre foi e será sempre esperança de melhores dias para todo sertanejo.

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