O centenário de nascimento de meu pai

Hoje será iniciada a programação comemorativa do centenário de nascimento do historiador Deusdedit de Vasconcelos Leitão. Neste texto me dedicarei a dissertar sobre essa personalidade da cultura paraibana, a quem se prestam justas homenagens, com o sentimento emocionado e orgulhoso de filho. A memória dele traz para todos nós, seus parentes, o exemplo de um homem que se destacava pela firmeza de caráter, pela forma entusiasmada e apaixonada com que se devotava às pesquisas históricas e à literatura, bem como o exercício responsável e competente nos cargos públicos a que foi convidado a assumir.

Meu pai era um homem que trazia como traço forte de sua personalidade, a modéstia. Fugia dos holofotes e da mídia, mesmo quando ocupou cargos de relevância na estrutura da administração pública estadual. O poder não lhe fascinava, preferia atuar nos bastidores, honrando a confiança que lhe fora atribuída. Não era uma modéstia em excesso, porque tinha consciência do seu potencial intelectual e de conhecimento das atividades a que estava convidado a desempenhar.  Apenas não gostava de ser estrela. Tinha noção exata de suas responsabilidades e não abria mão de exercê-las na compatibilidade das missões a ele conferidas.

Ouvi alguém dizer que ele foi o maior pesquisador da Paraíba. Não posso atestar que foi o maior, porém não tenho qualquer receio em afirmar de que foi alguém que abraçava essa atividade com grande prazer. Essa vocação para a pesquisa foi se acentuando com o passar do tempo, ao desenvolver o desejo de enfrentar desafios buscando fazer descobertas que pudessem resgatar informações valiosas para a nossa história e reconhecer valor de personalidades que se afirmaram importantes na construção da nossa história.  

Essa aptidão nata para a pesquisa fez com que se sentisse estimulado a enveredar pela ciência auxiliar da história que estuda a origem e a sucessão das famílias, estabelecendo as relações de parentesco entre as gerações: a genealogia. Deixou uma contribuição importante nessa área de conhecimento. Encontramos no seu acervo documental, registros manuscritos inéditos de publicação, que estão sendo analisados por técnicos da Fundação Casa de José Américo. 

Acompanhei, portanto, na convivência familiar, a sua trajetória intelectual voltada para a história, a genealogia e a heráldica, da nossa pequenina Paraíba. Exercia a atividade de pesquisador com o entusiasmo de alguém que se apaixona por uma causa. Vivia a devorar coletânea de jornais antigos, na ânsia de encontrar registros que oferecessem novos saberes a respeito da história de nossa terra. Enfurnava-se em cartórios e sacristias de igrejas católicas, consultando arquivos, na busca de satisfazer curiosidades que o ajudassem a elaborar árvores genealógicas de famílias paraibanas. Enfrentava permanentemente o desafio da pesquisa histórica, lidando com relatos de experiência humana, na inquietude de desbravar o até então desconhecido. Dedicava-se aos estudos da genealogia, da heráldica e da história, como quem se entrega aos prazeres de um divertimento. E assim construiu sua obra bibliográfica, com a edição de quinze livros. Afinal de contas esse é, na essência, o papel do historiador. E ele o fez com competência e paixão. 

A data de hoje faz com que nos sintamos com a sensação de que ele não morreu. Ele apenas se ausentou fisicamente do nosso convívio, mas permanece vivo na nossa lembrança e no nosso coração. O exemplo que deixou para os filhos, netos e bisnetos, torna-se guia do nosso proceder na vida. As homenagens que lhe são prestadas a partir de hoje nos emocionam e nos levam a um sentimento de gratidão pelo reconhecimento do seu valor cultural e pela contribuição oferecida à Paraíba como homem público.  

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